Antes e depois de João

Música

09.06.16

Talvez mais do que qualquer outro na música brasileira, João Gilberto é um intérprete-autor. Praticamente todas as canções que grava passam a soar como suas criações. Para saudar os 85 anos que ele completa nesta sexta, 10 de junho, a Batuta – web rádio do IMS – reuniu dez registros de várias épocas (1959 a 2004). E pôs, ao lado, gravações feitas anteriormente por outros artistas. Não se trata de maniqueísmo, pois alguns dos artistas foram influências fundamentais para João, como os conjuntos vocais e, sobretudo, Orlando Silva. Mas a comparação permite que se perceba como o baiano altera harmonia, canto, ritmo… Ou seja, “o som”, como ele diz.

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E seu fraseado é especial. Em Ave Maria no morro, por exemplo, Dalva de Oliveira, no Trio de Ouro, canta “barracão… de zinco”, separando bem as palavras, enquanto João canta “barracão-de-zinco”, estabelecendo uma continuidade de sons e de ideias, bem ao modo de Orlando. São detalhes que se tornam importantes na obra de um artista para quem as menores coisas são enormes.

A escalação de Me chama é para ressaltar o que se sabe: bossa nova não é um movimento ou um gênero, mas uma maneira de apresentar (ou reapresentar) uma canção, mesmo que de rock. E foi João o criador dessa maneira de ver a música e o mundo. Sua principal matéria-prima são os sambas que ouve desde a infância, como Preconceito, de Wilson Baptista. Para ele, a bossa nova já estava presente ali.

Toda música se transforma em outra após ser tocada por João Gilberto. A playlist abaixo, com repertório espelhado em duas maneiras de se ouvir a mesma canção – antes e depois de João –, inaugura na Rádio Batuta o programa Ontem e sempre, que irá ao ar sem periodicidade certa, sempre que surgir uma boa ideia do gênero.

 

Repertório

1)    Rosa Morena (Dorival Caymmi) – com Anjos do Inferno (1942);

(e com João Gilberto no disco Chega de Saudade, de1959);

 

2)    Morena Boca de Ouro (Ary Barroso) – com Sílvio Caldas (1941);

(e com João Gilberto no disco Chega de Saudade, de1959);

 

3)    Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti) – com Francisco Alves (1945);

(e com João Gilberto e Miúcha no disco João Gilberto, de 1973);

 

4)    Wave (Antonio Carlos Jobim) – com Elis Regina e Toots Thielemans (1969);

e com João Gilberto (do disco Amoroso, de 1977);

 

5)    Me chama (Lobão) – com Lobão (1984);

(e com João Gilberto na trilha da novela Hipertensão, de 1986);

 

6)    Ave Maria no morro (Herivelto Martins) – com Trio de Ouro (1942);

(e com João Gilberto no disco João, de 1990);

 

7)    You do something to me (Cole Porter) – com Lena Horne (1955);

(e com João Gilberto no disco João, de 1990);

 

8)    A valsa de quem não tem amor (Custódio Mesquita e Evaldo Rui) – com Nelson Gonçalves (1945);

(e com João Gilberto no disco ao vivo Eu sei que vou te amar, de 1994);

 

9)    Preconceito (Wilson Baptista e Marino Pinto) – com Orlando Silva (1941);

(e com João Gilberto no disco In Tokyo, de 2004);

 

10)   Adeus América (Geraldo Jaques e Haroldo Barbosa) – Os Cariocas (1948);

(e com João Gilberto no disco In Tokyo, de 2004).

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