Chico Mattoso

Uma pessoa esplêndida não está mais aqui

Chico Mattoso

15.05.12

Saber o quanto o mundo pode ser atroz e injusto é uma coisa; experimentar isso, por mais que não seja a primeira vez, é sempre um atropelamento, um pequeno massacre. Passei os últimos dias relendo os emails que troquei com a Chris, como se fosse conseguir extrair algo novo dali, alguma palavra que eu não pesquei, algum pensamento solto e revelador, mas agora as mensagens só me dizem uma coisa: uma pessoa esplêndida não está mais por aqui.

Groupie meteorológica

Chico Mattoso

21.04.12

O cotidiano do cara é de uma simplicidade extraordinária. Vestindo o mesmo casaco azul, todas as manhãs ele monta numa bicicleta e sai pela cidade atrás de fotos de anônimos, que reúne e publica numa seção do jornal. Por também fazer a coluna social, vive sendo alvo de convites e solicitações, além de ofertas infinitas de mimos e jabás. Ele não aceita nada. Depois de tirar as fotos, volta sozinho pra casa e vai jantar numa deli caindo aos pedaços.

Desvarios no metrô

Chico Mattoso

19.03.12

Como todos os sistemas de transporte público do mundo, o metrô de Chicago tem personalidade própria, uma vida que independe da cidade que corre lá embaixo. Sim: embaixo. Por algum motivo que está além da minha escassa compreensão, a maioria das estações de metrô em Chicago é suspensa, uma ideia duvidosa se considerarmos que a cidade tem oito meses de frio por ano.

Linda como um neném

Chico Mattoso

23.02.12

Que zica essa da tua febre, hein. Eu tenho pânico de ficar doente no exterior. Mesmo agora, com plano de saúde, morando num país onde as coisas supostamente funcionam, a ideia de precisar ir ao médico me aterroriza. Acho que isso tem origem na minha temporada na França, quando inventei de ir trabalhar numa vinícola durante as férias e o esforço físico foi tão grande (eram oito horas agachado por dia, cortando cachos de uva com um alicate) que acabei comprimindo um nervo e perdendo parte do movimento dos pés.

Fim dos tempos: o salgadinho de estrogonofe

Chico Mattoso

08.02.12

Clique aqui para ver a carta anterior                                              Clique aqui para ver a carta seguinte   JP,   Também não exageremos. Pra falar a verdade, aquela conversa sobre estar “vivendo com calma” é mais reflexo de uma vontade que uma constatação empírica. Porque o perrengue não passa, meu amigo. A gente tapa um buraco aqui, abre outro... Continue reading

Uma versão desidratada da vida

Chico Mattoso

01.02.12

Essa do grumo de sangue foi demais. Vai direto pro caderninho. Aliás, que belas epígrafes têm teus livros. Não posso dizer o mesmo dos meus, infelizmente. Eles tiveram dezenas de potenciais epígrafes, algumas delas bem bonitas e importantes no processo de escrita, mas na hora da edição final sempre me dá um treco e eu corto tudo. É como se a epígrafe poluísse o livro ? ou, ao contrário, como se o livro tirasse a potência da epígrafe, cujo destino ideal seria ficar boiando no éter, alheia a tudo, emitindo sinais de alta frequência como um sonar ou um golfinho. Enfim. Quem sabe um dia.

Vida estrangeira

Chico Mattoso

26.01.12

Concordo com isso que você falou sobre morar fora. Tenho certas dúvidas se ao final vou conseguir me entender melhor, mas é fato que as coisas ganham outro tamanho e importância. Sobre o lance da comunicação, acho que o problema é que a gente nunca é a mesma pessoa falando em língua estrangeira, e de repente você se vê flutuando entre duas versões de si, uma delas gaguejante e meio infantilizada, a outra razoavelmente madura, articulada e cheia de coisas supostamente interessantes pra compartilhar com a humanidade.

Porto Alegre anabolizada

Chico Mattoso

17.01.12

Esse cosmopolitismo fajuto me encanta. Chego a achar que é a única forma saudável de cosmopolitismo, conceito que no mais sempre me pareceu ligeiramente bocó. Chicago é uma espécie de Porto Alegre anabolizada e com trinta graus a menos. Não tem como ser ruim. Meu réveillon foi meio furreca. Saímos com amigos queridos, mas acabamos festejando a virada num clube alemão onde uma banda tocava clássicos do rock em ritmo de polca. Falando parece divertido, mas a cerveja era quente e o clima era mais de festa de firma do que de desregramento e libertinagem.