Bom dia para lembrar Otto Lara Resende

Literatura

01.05.14

Otto Lara Resende, déc. 1960. Fotógrafo não identificado. Instituto Moreira Salles/Arquivo Otto Lara Resende

“Os dias em que nós passamos, antecipados,
pelo aniversário de nossa morte”.

Paulo Mendes Campos
(“De um caderno cinzento”, publicado em Manchete, em 04/12/1965)

Em 26 de abril de 1972, às vésperas de seu aniversário, em 1º de maio, Otto Lara Resende escreve ao amigo e futuro vizinho de arquivo no Instituto Moreira Salles, Francisco Iglésias: “Fui denunciado. A impressão paranoica, na rua, por toda parte, é que todo mundo está vendo que faço 50 anos – que vergonha! Vou me esconder, vou fugir”.

A aflição do aniversariante é aguçada por uma nota publicada no “Jornal do Brasil”, a “primeira punhalada de mel”. A Otto são atribuídas as mais altas qualidades: “Este homem cosmopolita, acima de tudo mineiro na fidelidade às suas raízes e ao espírito de sua terra, faz 50 anos sem mudanças, a não ser uma visível, mas leve devastação capilar. No mais, mantém viva a inteligência inquieta e perquiridora, uma alma intacta nos seus ideais de fraterna convivência, tolerância, correção e equilíbrio (…)”.

Num tom entre melancólico e bem-humorado, tão próprio de sua personalidade, o autor de “O braço direito” reflete, nesta carta a Iglésias, sobre o valor da morte e da vida, sobre Minas Gerais (“Meu umbigo está aí”), sobre a amizade, tema que lhe é caro, e revela horror a telefones (“instrumento diabólico para me roubar a pouca paz que tenho”). A carreira e a correria da vida – era diretor do JB quando no ano anterior assumira uma disciplina no curso de Comunicação Social da PUC-Rio – o impediam de executar a atividade epistolar com o esmero que desejava e dava indícios “do desejo de parar, de me dedicar mais ao que sou eu, (…) de desvencilhar do lixo do meu cotidiano”.

O descanso, de fato, ainda estava longe; viveria 20 anos mais participando intensamente do cenário cultural brasileiro.

Carta de Otto Lara Resende a Francisco Iglésias, 26 de abr. de 1972. Instituto Moreira Salles/Arquivo Francisco Iglésias

“Maio, porém, está aí. 1º de maio: bom dia para começar. Ou recomeçar.” A frase de Otto Lara Resende encerra a crônica “Bom dia para nascer”, publicada em 1º de maio de 1991, na “Folha de S.Paulo”. O texto seria recolhido em 1993 por Matinas Suzuki em livro homônimo, publicado pela Companhia das Letras. Uma edição ampliada, sob organização de Humberto Werneck, foi lançada em 2011 pela mesma editora.

O mineiro de São João del Rei completaria 92 anos.

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