Cartas abertas

Correio IMS

06.08.15

“Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”, escreveu Machado de Assis a Joaquim Nabuco após perder sua amada Carolina.

“A gente não se acostuma com a morte, Chico”, lamentou Otto Lara Resende, a Francisco Iglésias, em luto por Hélio Pellegrino, um de seus grandes amigos.

“Ana anda, Cristina olha, Cruz credo, Cesar vigia, sentidíssimas sentinelas armando-se…?”, quase versejou Armando Freitas Filho a Ana Cristina Cesar.

 

Remetente: Otto Lara Resende / Destinatário: Francisco Iglésias (1982)

 

Os trechos são pequenos exemplos do material disponível, a partir do próximo dia 11, no site Correio IMS. A iniciativa, realizada pela Coordenadoria de Literatura do instituto, pretende reunir em um endereço algumas das melhores cartas brasileiras. No lançamento, já serão 100. Outras logo se somarão, pois a atualização será frequente.

Além de cartas propriamente ditas, haverá textos escritos em cartões-postais, bilhetes e telegramas. E até letras de músicas concebidas como se fossem cartas, como as de “Meu caro amigo”, de Chico Buarque, e “Cordiais saudações”, de Noel Rosa.

Ganharão vida digital cartas nunca antes publicadas, como a de Armando Freitas Filho à sua querida Ana Cristina Cesar. Peças históricas, caso da carta de Amélia de Leuchtenberg ao enteado Pedro de Alcântara, futuro imperador Pedro II, a quem é obrigada a deixar no Brasil ainda menino  após Pedro I voltar a Portugal. “Adeus, órfão-imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer”, despede-se, em mensagem comovente.

Emoção é ingrediente destacado nos textos escolhidos. Conhecida por quem assistiu ao documentário Nelson Freire, reaparece no site, acompanhada de um trecho do filme, a carta em que o pai do pianista, o farmacêutico José Freire Silva, recorda-lhe a opção feita pela família em prol do futuro artístico do filho.

 

O visitante poderá, talvez, se surpreender com as cartas apaixonadas que o sóbrio jurista Rui Barbosa escreveu à mulher, Maria Augusta; com a versatilidade de Lucio Costa, que, além de arquiteto, tinha talento para escrever extraordinárias descrições de cidades europeias; com a aflição de Tom Jobim, que tremeu nas bases diante da vaia de “Sabiá”e precisou do ombro de Chico Buarque; com a seriedade que Otto Lara Resende dedicava às amizades, o que levou Paulo Mendes Campos a lhe abrir o coração em agosto de 1945.

O site oferece várias possibilidades de navegação. Pode-se pesquisar pelo ano em que a carta foi escrita; pelo remetente ou destinatário; ou por temas, entre os quais saudade, ciúmes, amor, amizade, literatura e poesia.

Com a intenção de situar o leitor, cada carta é precedida de um parágrafo no qual o documento é contextualizado, indicando-se, assim, as circunstâncias em que foi escrito. Há ainda um pequeno perfil biográfico de cada remetente e cada destinatário. E uma galeria de imagens em que estarão disponíveis fotos, vídeos ou áudios relativos às cartas ou aos seus autores.

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