Ernesto Nazareth – Querido por todos (parte 3): no imaginário musical

Música

15.05.12

“Havia para as grandes confissões dos corações, os tangos do Ernesto Nazareth…”

No primeiro e segundo posts desta breve trilogia vimos as músicas dedicadas a Nazareth no meio erudito e no meio popular. Hoje veremos outros tipos de homenagem, músicas que citam apenas brevemente seu nome ou sua música, mas que contribuem para sua perpetuação no imaginário musical.

A música Flauta, Cavaquinho e Violão, de Custódio Mesquita e Orestes Barbosa, gravada por Aracy de Almeida em 1945, lembra com poesia nostálgica o Rio antigo. Em certo trecho, a letra fala:

“No rio dos sonetos de Bilac só de fraque
É que se frequentava os cabarés.
E havia para as grandes confissões dos corações
Os tangos de Ernesto Nazareth… ”

E logo em seguida os violões tocam o tema de Brejeiro.

Várias décadas depois encontramos Ivan Lins e Vitor Martins, na música Bonito, também falando de flauta, cavaquinho e violão, e dizendo:

“Sou mais Portela
Com a cabeça do Paulinho
Sou mais Elis
Ainda que depois da porta
Sou mais Aldir e o bom Bosco
Para sempre, para sempre
O Nazareth, o Radamés e o Jobim”

Sabe-se que Pixinguinha era amigo de Nazareth, inclusive gravou suas peças Matuto e Odeon. Embora não conheçamos nenhuma homenagem direta a Nazareth em sua obra, vemos a letra que Jair Amorim fez para o choro Naquele Tempo capturar mais uma lembrança de Nazareth:

“(…) Naquele tempo era a graça da raça na praça
E um sorriso furtivo ao passar
E ouvia-se tocar Ernesto Nazareth
Noturnos de Chopin bem cedo no café
À noite inteira nos saraus
Só se ouvia Strauss”

Na tocante homenagem a Jacob Ao longe um bandolim, Sérgio Farias e Hermínio Bello de Carvalho falam:

“(..) e os seus dedos miraculosos
lapidavam cada som
pixinguinhas modulantes
nazarés apaziguando a dor
seu bandolim
quem escutou
jamais esquecerá…
era Jacob do Bandolim”

Também é interessante lembrarmos a ainda obscura primeira letra que Odeon recebeu, de Hubaldo Maurício, que coloca Nazareth tocando dentro de sua própria música:

“Ó que saudade das «Soireés» e «Matinês« lá do Odeon…
E lá o saguão, o pianista muito sério, o seu piano a dedilhar…
Os namorados, no intervalo, passeavam a se olhar!
Bilhetes mil, tinham asas, voavam era o jeito de amar”

A sonoridade do título de Apanhei-te, cavaquinho inspirou algumas variações, como Apanhei-te meu Fagotinho (valsa paródia), de Francisco Mignone; Apanhei-te Paganini, de Lyrio Panicali; Apanhei-te Pianinho, de Gilson Peranzzetta (que também cita a polca em suas Variações sobre um tema de Nazareth); e Apanhei-te Mini-Moog, de Mu Carvalho.

O compositor francês Darius Milhaud, quando esteve no Rio entre 1917 e 1919, como adido cultural, afirmou sobre Nazareth e Tupynambá em 1920: “A riqueza rítmica, a fantasia sempre renovada, a verve, a vivacidade, a invenção melódica de uma imaginação prodigiosa que são encontradas em cada obra destes dois mestres tornam estes a glória e a jóia da arte brasileira”. Em seu famoso balé Le Boeuf sur le Toit (O Boi no Telhado), citou quatro músicas de Nazareth: Escovado, Carioca, Ferramenta e Apanhei-te, cavaquinho.

O choro São João debaixo d’água, de Irineu de Almeida (professor de Pixinguinha), que cita a segunda parte de Brejeiro, possui curiosa história. Segundo o pesquisador José Silas Xavier, Irineu foi tocar em uma festa de São João em Bangú, e caiu um temporal imenso. Nessa festa apareceu um clarinetista que entrou para o grupo de improviso, e na hora de repetir ele só conseguia tocar o brejeiro (que se encaixava à música que estavam tocando). Então Irineu, quando foi gravar a peça com o Choro Carioca referenciou o episódio cômico do clarinetista colocando alguns compassos da segunda parte do Brejeiro.

Esta gravação pelo Choro Carioca feita em 1911, foi provavelmente a primeira gravação de Pixinguinha, que participa na flauta, aos 14 anos.

Nos EUA, em 1914, como parte do sucesso fenomenal que o maxixe Dengoso teve, vemos nada menos que três paródias sobre esta música: That Wonderful Dengoza Strain, de Abner Greenberg e William Jerome; Dance that Dengozo with me “Oo-La-La”, de George L. Cobb e W. L. Beardsley; e My Croony Melody de Joe Goodwin e Ray Goetz. Nesta última, algum pobre coitado reclama que não aguenta mais ouvir aquela melodia “tantalizante” (veja a letra completa e tradução aqui)

“(…) Now surely something’s wrong with me
Since I heard the melody
Melody of mystery
A tempting refrain
Has entered my brain

(…) My poor brain
Oh, what am I going to do?
What are you going to do?
Everywhere I go I hear it again
Well ain’t that a shame?”

De volta ao Brasil, vemos a prática de respostas musicais, muito comum no século XIX. Luiz Levy, sob o pseudônimo de Ziul Y Vel, compôs as polcas Cativaram-me os teus olhos (em resposta à polca Os teus olhos cativam) e Vicilino (em resposta à polca Beija-flor). E Jacintho Cunha compôs a polca Filhinha, como uma “Imitação da polca A Fonte do Lambary de Ernesto Nazareth”.

Complementando essas diversas menções, é interessante notar que, no google maps, há registrados diversos locais que referenciam Nazareth: Conservatório Musical Ernesto Nazareth (Mooca – SP), Escola de Música Ernesto Nazareth (São José do Rio Preto – SP), Escola Municipal Ernesto Nazareth (RJ), CAPS Ernesto Nazareth (RJ), dois condomínios residenciais (Curitiba e Belém) e oito ruas (em Recife, São Paulo, Alto de Pinheiros – SP, Rio de Janeiro, Santa Maria – RS, Sumaré – SP, Guarulhos – SP, São José dos Campos -SP)

Dentro do repertório de hinos escolares (que Nazareth explorou em várias peças), o biógrafo Luiz Antonio de Almeida registrou o Hino da Escola Ernesto Nazareth (provavelmente da década de 1960), de autoria desconhecida, e letra de Maria Mercêdes Mendes Teixeira, que letrou diversas músicas de Nazareth:

I
Neste canto de glória e alegria
Nós dizemos da mais viva fé
Evocando a sublime harmonia
Em teu nome imortal Nazareth. (bis)

II
Neste hino a esta escola querida
Que do nome a lição, já nos vem
Pautaremos, no amor, nossa vida
Ao estudo, ao trabalho e ao bem

III
Procurando, no bem, ser primeiros
Sentiremos imenso prazer
Dando exemplo de leais Brasileiros
Saberemos cumprir o dever

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