Exercitando a liberdade de ser

Música

21.05.12

Não parece ter sido a intenção de Madalena Schwartz no conjunto de fotografias que acabou levando o nome de Crisálidas registrar nada além do que a exuberância estética de personagens variados que lidavam com os limites da sexualidade e subvertiam as convenções de representação dos gêneros.

No entanto, essa busca acabou aproximando a fotógrafa de dois grupos que fizeram história na história da cultura brasileira, os Dzi Croquettes e os Secos & Molhados.

Ambos grupos usaram a expressão artística como uma forma de desafiar o clima ao mesmo tempo repressivo, mas de enorme experimentação que se vivia no Brasil nos anos 70. Os primeiros levavam aos palcos um espetáculo musical, onde a paródia e a irreverência estavam de mãos dadas com o glamour criativo. Entre o teatro de revista e os shows de travestis, as performances dos Dzi Croquettes marcaram a cena teatral dos anos 70 e tornaram-se uma referência da cultura de resistência, ainda que, como afirma um de seus integrantes, o ator Claudio Tovar em depoimento ao IMS, eles não levantassem “bandeiras”. “Estávamos exercitando a liberdade de ser, simplesmente.”

Já os Secos & Molhados surgiram da cena roqueira que circulava pelo underground daquela década. Com maquiagem pesada, um vocalista que cantava em falsete, um conjunto de excelente canções pop, o grupo acabou se tornando um dos fenômenos musicais da década, apesar do teor altamente transgressivo de sua performance. “Toda minha performance artística era de resistência à ditadura militar”, afirma Ney Matogrosso, o cantor e líder dos Secos & Molhados em depoimento ao IMS. Ainda segundo Ney, a transgressão tinha, para Madalena, um apelo que ia além do estético: “Acho que isso falava ao espírito dela, como uma imigrante fugida da guerra”.

* Bia Abramo é jornalista.

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