Hostes cruzmaltinas

Correspondência

03.12.11

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Meu querido Dapieve:

Só de ler sobre suas atribulações em aeroportos, por incrível que pareça, me senti “estranho” (uma palavra branda). Sofro de uma curiosa neurose de espera. Um voo atrasa, uma consulta médica empaca, e vou surtando devagarinho. Uma vez, faz um tempão, eu estava na fila de um banco e saiu uma encrenca entre cliente e caixa. Comecei a suar frio e parti para uma agressão louca, tendo que ser contido por seguranças e o escambau. Meus gloriosos anos de psicoterapia ajudaram em alguns problemas, mas essa inguizila com esperar continua. Imagine o que foram os vários períodos de 9 meses esperando meus netos nascerem. Indescritível. Devido à morte de filhas gêmeas, a neura potencializou-se a n. Acontece o mesmo nos cruéis minutos finais de jogos de futebol, sejam do Vasco, do Barcelona, ou se eu estiver torcendo pelo Leeds. Um inferno. Rezo orações escalafobéticas, conto até 6 ou até 10, fazendo uma dancinha com os dedos das mãos sobre um livro, o peito, a testa…

Bom, ouço ao longe a sirene da ambulância. O bom-senso aconselha que eu mude de assunto.

Não estou empolgado (herança paterna: já expliquei em carta anterior) com a última rodada do Brasileirão. Acho que o Vasco cumpriu seu dever. Foi mais longe do que o previsto. Não dá para ficar otimista quando o próprio clube erra na contagem de cartões amarelos de um jogador fundamental, e um jornalista é que revela a mancada. Cacete, são montes de “profissionais” no departamento de futebol, ou lá como se chame o troço, e expõem o técnico, um sujeito legal, nada de Prof. Dr., ao ridículo de lamentar, em entrevista após o jogo contra o Fluminense, a perda de Juninho Pernambucano e Diego Souza. Um horror (meu pai já está me usando como boneco de ventríloquo). O Vasco não vai comemorar por antecipação o título porque não tem finalizadores. São seus meio-campistas que resolvem o problema. Isso vem acontecendo desde antes de cair para a Segundona. Reitero o que já escrevi: incompreensível um time cujo presidente foi um dos maiores artilheiros de nosso futebol, não solucionar de vez essa porcaria. Segundo meu neto Pedro, uns 15 caras passaram pela posição. Por que não comprar UM craque logo de uma vez? Sou autor de uma história do Vasco da Gama (na qual o “departamento especializado em iconografia” da editora deixou furos homéricos e, até hoje, me esculhambam por isso). A vaquinha sempre resolveu quando o bicho pegava nas hostes cruzmaltinas. Dinamite, reúna os atacadistas da rua do Acre e passe o livro de ouro. Não sei se funcionará, mas vale a tentativa. Importante: não inclua “beneméritos”. São cupinchas do Eurico. Uma curiosidade: Juninho Pernambucano fez uma falta mais séria, levou amarelo, está fora da final. Enquanto isso, R-10 colocou o Flamengo de volta na Libertadores, com um gol gentilmente cedido pelo Internacional. Ele foi expulso por agressão e já deveria ter sido julgado. O “regulamento” prevê 12 jogos fora, mas R-10 estará em campo na decisão, com toda a sua pompa e circunstância. O youtube que o diga. O irmão chato reapareceu reclamando, “paciência tem limite”. Ninguém presta atenção. O irmão é mais que mala sem alça: parece uma frasqueira de cafetina.

Encerro com um carinho para minha mulher. Operou pela segunda vez o ombro, ruptura de um certo manguito que me dá vontade de cuspir nos adeptos do design inteligente divino. Acompanhei o sofrimento, sempre suportado com a maior classe, pensando invariavelmente nas filhas e nos netos. Ao voltar para casa, enfaixada, fez um doce dietético para mim, que temperei com o sal das lágrimas.

Quando a vi sair para a clínica (eu mesmo tirei a pressão arterial: 11 X 7. A minha teria me arremessado feito um Scud no Rio Maracanã), um pensamento varreu-me a mente como esses ciclones que jogam rebanhos e caminhões-cegonhas para o alto feito penas: dia virá em que nos beijaremos na porta, exatamente assim, em plena Era da Meiguice, já arrefecidos, mas não mortos, os ardores, porém um dos dois não vai voltar. Superei a ameaça de parada cardíaca ao escrever esse final: Minha Suburbana, amo você perdidamente. Milhões e milhões de pessoas vivem e morrem sem conhecer esse sentimento.

Abraço fraterno,

Aldir

P.S. – Sei que pega mal. Paciência. Adorei quando o jogador Leandro xingou o juiz de TUDO, chamou-o pra briga, “comprado!” e muitas, muitas outras pérolas. O reserva de colete gritar para o árbitro “vem cá falar comigo, seu…” é L-I-N-D-O!

Obrigado, Leandro! O Vasco precisa de gente assim quando o assaltam.

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