Manter-se independente – quatro perguntas a Bárbara Bulhosa

Quatro perguntas

29.05.12

 

Há sete anos, a portuguesa Bárbara Bulhosa fundou a editora independente tinta-da-china. Hoje, reconhecida no mercado português pela qualidade (estética, inclusive) do seu catálogo de mais de 200 livros, Bárbara aporta nas livrarias brasileiras com a criação da tinta-da-china Brasil. Desde março, são dois títulos (Se não entenderes eu conto de novo, pá,de Ricardo Araújo Pereira, e O retorno, de Dulce Maria Cardoso), uma autora convidada para a FLIP e a reafirmação de que a tinta-da-china é, sobretudo, independente. Bárbara respondeu quatro perguntas elaboradas por Reginaldo Pujol Filho, escritor brasileiro residente em Lisboa, para o Blog do IMS sobre projetos no Brasil, diferenças entre mercados brasileiro e português e ideias e peculiaridades da tinta-da-china.

1)Antes de ser editora, você já teve experiência como diretora de um grupo de livrarias, o que deve dar um belo conhecimento do mercado editorial português que tem diferenças evidentes do mercado brasileiro, como, por exemplo, a lei do preço fixo por 18 meses. Poderia comentar um pouco essa e outras diferenças que você esteja percebendo nesses primeiros meses de Brasil?

A minha experiência enquanto livreira foi fundamental para definir o conceito da tinta-da-china. Se um editor tiver o conhecimento profundo de todo o percurso do livro, das particularidades da distribuição às dificuldades das livrarias, será mais fácil sobreviver.

O mercado brasileiro é muito mais vasto e rico do que o português, as regras de comercialização também são diferentes, em Portugal os livros são vendidos às livrarias, enquanto que no Brasil ficam maioritariamente à consignação, por exemplo. Isso faz com que a estratégia da empresa tenha obrigatoriamente que ser diferente. O facto de ser um país do tamanho de um continente é um factor sempre presente, claro. Estamos ainda a adaptar-nos. Contudo, a receptividade aos nossos livros tem sido muito positiva.

2)Uma das características dos livros da tinta-da-china é a beleza, o acabamento, o objeto. Dá para manter esse padrão no Brasil sem fazer obras caras? E, aproveitando, você pensa em fazer livros eletrônicos da tinta-da-china? Seria possível fazê-los virtualmente tão atraentes?

Os livros da tinta-da-china Brasil terão os mesmos acabamentos que em Portugal. Acreditamos ser essa uma das mais-valias da editora. Não serão mais caros do que em Portugal e estarão dentro dos preços do mercado brasileiro.

Gostamos do livro enquanto objecto. A hipótese de livros eletrônicos está a ser pensada para o Brasil, no entanto, sabemos que não será possível fazer o mesmo trabalho de diferenciação que temos vindo a desenvolver até aqui. Se avançarmos com o livro eletrônico será pontualmente, continuaremos a trabalhar com o que gostamos mesmo. Livros.

3)A tinta-da-china tem apenas 7 anos e é declaradamente uma editora independente. Mas autores que publicavam por grandes grupos, como Mário de Carvalho e Dulce Maria Cardoso, começam a publicar com você em Portugal (a Dulce no Brasil também). O que é que faz eles trocarem os grandes grupos pela tinta?

O acompanhamento personalizado e a atenção que damos a cada livro só é possível numa pequena estrutura. Cada projecto é pensado individualmente, não existe uma linha de montagem. Se publicássemos 30 livros por mês não conseguiríamos dar a mesma atenção a cada autor, teríamos que delegar.

Penso que são algumas vantagens das pequenas sobre as grandes editoras. Por outro lado, temos uma boa distribuição e estamos muito visíveis nas livrarias.

4) O que esperar de uma editora que chega no Brasil de um jeito diferente dos outros selos internacionais, sem adquirir catálogos nem fazer fusões? Tem planos de lançar coleções originais como a Livros de Viagem, a Coleção Literatura de Humor por Ricardo Araújo Pereira e os Livros Licensiosos? Ou ainda: há a ideia de lançar livros específicos para Brasil e específicos para Portugal?

Qualquer comparação da nossa chegada ao mercado brasileiro com a de grandes grupos editoriais não faz sentido. Somos uma pequena editora que tem como principal objectivo manter-se completamente independente. Tanto em Portugal como no Brasil. É assim que sabemos trabalhar.

Vamos colocar no mercado brasileiro as nossas coleções de referência, sim. E vamos publicar autores brasileiros em Portugal, a par de portugueses no Brasil, assim como conceber projetos só para o Brasil.

* Na imagem que ilustra o post: a editora Bárbara Bulhosa (divulgação).

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