Pérolas dos alunos de Otto

Por dentro do acervo

27.05.13
Otto Lara Resende nos anos 1940
(Acervo Otto Lara Resende / IMS)

A divulgação de “pérolas” de alunos, ou seja, das respostas absurdas dadas por estudantes em provas e que se tornam fonte de humor, não é apenas uma tendência contemporânea. Na década de 1940, o jornalista Otto Lara Resende, que foi professor do chamado ginásio, publicou mancadas dos seus alunos nos exames de História do Brasil. Como Otto afirmou na crônica “Pérolas”, de 30 de maio de 1941, publicada no jornal O Pequeno Semeador, de São João del-Rei, corrigir provas dos alunos nem sempre era um aborrecimento para os professores: havia os que se divirtam com as gafes que os alunos escreviam.

As pérolas, bolas fora, ou quaisquer outros nomes para as mancadas dos alunos, são facilmente encontradas em todas as matérias. Hoje, essas gafes viram notícia e se espalham rapidamente pela internet após os vestibulares. Segundo o jornalista mineiro, elas tendiam a aparecer mais na disciplina História, por causa do complexo de nomes e datas que se misturam e se complicam nas cabeças dos estudantes. Para Otto, muitos alunos eram fortes concorrentes de Mendes Fradique, autor da História do Brasil pelo método confuso. “Nem Murilo Mendes com sua engraçadíssima História do Brasil em verso consegue vencer alguns destes humoristas inconscientes que são certos alunos de ginásio”, afirmou o jornalista.

Abaixo, algumas das pérolas reunidas na crônica:

Cláudio Manuel da Costa morreu enforcado dentro de um rio, debaixo de uma ponte, e devorado por peixes.

 

Quem auxiliou Colombo foi Caramuru.

 

As entradas não saíram do Brasil, mas exploraram as Goianas.

 

Entrada é um grupo de rapazes que passeia pelo sertão.

 

Cláudio Manuel da Costa, estando morrendo de fome, danado da vida, deu um tiro no ouvido.

Alguns estudantes são cabeça oca, como afirmou Otto, enquanto outros se confundem momentaneamente. Lembro do caso de uma professora, que pela idade poderia ter sido aluna de Otto. Como ele, contarei apenas o fato, sem dar o nome da santa. Em conversa informal, ela confessou a mim e aos meus amigos sua gafe dos tempos do ginásio. Na prova de religião, aplicada na quinta-feira após o Carnaval, ela respondeu sem pestanejar que Jesus havia sido batizado no rio Ribeirão, embora, como muitos sabem, isso tenha acontecido no rio Jordão. Mas a professora, na época estudante, tinha passado os dias anteriores ao exame pulando e cantarolando a marchinha de Mirabeau Pinheiro em parceria com três outros compositores, que têm o seguinte refrão:

Você pensa que cachaça é água?

Cachaça não é água não

Cachaça vem do alambique

E água vem do Ribeirão.

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A crônica original, de 30/5/1941:

"Pérolas", por Otto Lara Resende (1941)