José Geraldo Couto
Filipa Reis e João Miller Guerra

O estrangeiro

José Geraldo Couto

11.10.18

Um filme cabo-verdiano é um corpo mais do que estranho no circuito exibidor brasileiro. Djon África conta de maneira original uma história clássica, a de um homem em busca de seu pai desconhecido. Já o alemão Os invisíveis, sobre a perseguição a judeus escondidos durante o nazismo, resgata valores de compaixão e solidariedade tão imperiosos aqui e agora quanto na Berlim da época de Hitler.

O trabalho do tempo

José Geraldo Couto

27.07.18

Em dois belos momentos para o cinema nacional, a ficção Alguma coisa assim, de Mariana Bastos e Esmir Filho, e o documentário Vinte anos, de Alice de Andrade, costuram com engenhosidade as voltas que o tempo dá.

Xadrez na Dinamarca

Rafael Cardoso

26.12.17

É difícil resistir à tentação de atribuir significados fatídicos à imagem de Bertolt Brecht e Walter Benjamin jogando xadrez na Dinamarca em 1934. A relação entre esses autores – dois dos maiores vultos da cultura alemã no século XX – foi intensa e duradoura. Com uma exposição e novas biografias, embora nunca tenham saído de cena, Brecht e Benjamin estão de volta com força total.

Uma criança grande demais

Bernardo Carvalho

01.09.16

Há relatos sobre Robert Walser, durante sua passagem por Berlim entre 1905 e 1913, que o comparam a uma criança gigante, inconveniente, que conta piadas que ninguém entende e ri fora de hora. O humor e o drama dos textos de Walser vêm dessa inconveniência. Os personagens estão sempre ligeiramente fora do lugar. É ao mesmo tempo engraçadíssimo e inconsolável.

Preto não entra

Bernardo Carvalho

03.12.14

Em poucos segundos, a cadelinha Jack Russell já estava engalfinhada com o pobre cachorro preto. O dono, com a caipirinha na mão, virou-se para mim e disse, com um sorriso maroto de cumplicidade: “Ela não deixa preto entrar na festa”. O que faz um sujeito supor que outro branco, por ser branco, deve ser necessariamente racista, como ele?

Imagens recicladas – por Andreas Lewin

31.10.13

Andreas Lewin, idealizador e produtor do festival alemão Doku.Arts, dedicado a documentários sobre artes e artistas, apresenta quatro dos cinco filmes constantes da edição deste ano, e que serão exibidos pelo IMS-RJ de 1 a 3 de novembro. Dentre eles Harry Dean Stanton, em parte ficção, de Sophie Huber, sobre a carreira do ator norte-americano famoso por papéis coadjuvantes.

A neve é um casaco esplêndido e quente

Bernardo Carvalho

06.02.12

A cidade está coberta de neve, oito graus negativos. Começo a ler o pequeno volume, recém-publicado em inglês, com as "Histórias de Berlim", de Robert Walser (tradução de Susan Bernofsky, ed. New York Review Books). O escritor suíço viveu aqui entre 1907 e 1913.

Palácio de Lágrimas

Bernardo Carvalho

10.10.11

Minha amiga foi "comprada" pela RFA. Já no final da adolescência, tinha decidido deixar a qualquer preço a Alemanha Oriental. E não sabe explicar por que não foi presa quando pediu para ir embora (...). Os pais, que eram simples trabalhadores, tampouco foram perseguidos. Apenas ela caiu em desgraça. Trabalhava num teatro. Passou a lavar o chão. Esperou alguns anos até os advogados ocidentais que trabalhavam pelos dissidentes da RDA comprarem seu passe. A Alemanha Oriental precisava de dinheiro. E mantinha um encarregado oficial para negociar com o ocidente a liberação de dissidentes e presos políticos.

Uma aventura no Xingu

Bernardo Carvalho

05.09.11

O taxista não acreditou. Parou e, reproduzindo o meu gesto a título de ilustração, perguntou (dessa vez, em inglês, porque só um estrangeiro, na sua ignorância, podia ter reagido como reagi) se era aquilo mesmo que eu tinha querido dizer. Ele estava a fim de encrenca. E eu, cada vez mais transtornado, repeti o gesto, disse que ia chamar a polícia e peguei o celular. Fingi que discava o número da polícia, fingi que falava em inglês com a polícia e que dava o endereço de onde estávamos. Tudo bem alto, como um louco, pra ele ouvir. Era como se eu fosse parte de um episódio do Seinfeld.

Passeios sem Robert Walser

Bernardo Carvalho

11.07.11

Não tenho fetiche por escritores (não costumo visitar seus túmulos nem suas casas, embora a de Dostoiévski em São Petersburgo tenha me deixado muito impressionado). Decidi ir atrás dos traços de Walser em Berlim (onde ele viveu entre 1907 e 1913, depois de ter frequentado uma escola para criados, e quando escreveu e publicou a sua obra-prima recém-lançada no Brasil, Jakob von Gunten) só pra me distrair do meu próprio bloqueio. Achei que um pouco de fetichismo pudesse me ajudar a superar a inércia.