Carla Rodrigues

Trabalho de luto

Carla Rodrigues

31.10.18

Quando, em "Luto e melancolia", Freud deixa em aberto a medida do tempo necessário para superar o luto, esse talvez seja o melhor antídoto contra um dos maiores clichês: “a vida continua”, como se uma grande perda devesse e pudesse ser encarada com grande naturalidade.

O inominável atual

Kelvin Falcão Klein

05.02.18

Todo leitor dedicado tem seus autores de estimação, aqueles que acompanha, que busca ler na íntegra. No meu caso, o italiano Roberto Calasso é, sem dúvida, um deles. Um dos principais atrativos de sua escrita é a capacidade que tem de fazer do leitor uma sorte de participante. Trabalhando a partir de lacunas e elipses, faz o leitor preencher os espaços vagos a partir do próprio repertório (como a antiga máxima que diz que a música se dá nos silêncios entre uma nota e outra).

Xadrez na Dinamarca

Rafael Cardoso

26.12.17

É difícil resistir à tentação de atribuir significados fatídicos à imagem de Bertolt Brecht e Walter Benjamin jogando xadrez na Dinamarca em 1934. A relação entre esses autores – dois dos maiores vultos da cultura alemã no século XX – foi intensa e duradoura. Com uma exposição e novas biografias, embora nunca tenham saído de cena, Brecht e Benjamin estão de volta com força total.

Judith Butler na imagem Judith Butler na imagem

Duas vezes Judith Butler no Brasil

Carla Rodrigues

30.10.17

A segunda vinda de Judith Butler ao Brasil provoca reação de grupos radicais de direita, que insistem em encontrar na filósofa americana aquilo que ela não é: nem a primeira e principal formuladora da teoria queer nem a inventora do gênero como construção social. O que está em pauta são os fins da democracia.

Eduardo Portella inédito

Equipe IMS

05.05.17

A vida pública de Eduardo Portella (1932-2017) eclipsou o fino intelectual que ele foi. Em tudo e por tudo, era excelente conversa, como se confirma nestes trechos de um depoimento inédito ao IMS, conduzido em 2014 por Beatriz Resende, Alberto Pucheu e Paulo Roberto Pires.

Liberdade e luta

Rafael Cardoso

10.01.17

John Berger, falecido no último dia 2, não se contentava com pouco. Aliás, pouco se contentava. Era um radical, no melhor sentido do termo. Desde seu combativo, e delicioso, primeiro livro de ensaios críticos, nunca deixou de denunciar a ganância por poder, dinheiro e celebridade que põe em perigo os valores mais essenciais da humanidade, nem poupou as manobras de um meio cultural que busca enredar a arte em tramas e discursos capazes de esvaziá-la de seu sentido crítico e alinhá-la com os interesses de quem o controla. Tal procedimento, ele nomeava, em alto e bom som marxista, como ‘mistificação’. Arte, para Berger, era liberdade e luta.

Ao passado, ao trabalho

Carla Rodrigues

04.05.16

No Brasil, coube à filósofa Jeanne Marie Gagnebin a importante tarefa de ressignificar a melancolia no pensamento de Walter Benjamin e recusar o senso comum de o pensador alemão seria um saudosista em busca do tempo perdido. Em seu livro mais recente, ela trabalha com a ideia de que memória e rememoração funcionam em Benjamin como instrumentos políticos de resistência. Com isso, Gagnebin ajuda a pensar no que estamos vendo acontecer todos os dias: numa crise política, a disputa nunca é apenas em torno do presente, mas também ou principalmente sobre a história.

Comum, errante e alegre

Carla Rodrigues

11.02.16

É da passagem da vida comunitária para a vida individual que trata a última temporada de Downton Abbey. A rigor, todos os desfechos das trajetórias de vida – seja dos nobres, seja dos empregados – indicam o primado do indivíduo sobre a comunidade. O fim desse mundo compartilhado que Abbey narra tão bem é hoje um tema importante na filosofia política.

A originalidade da cópia

Felipe Scovino

11.06.13

Por quase duas décadas, conta o crítico Felipe Scovino, Francis Alÿs vem recolhendo centenas de imagens de Santa Fabíola, em sua maior parte produzidas por amadores, em mercados populares e antiquários do mundo todo. Ao reunir todo esse arquivo numa exposição, atualmente em cartaz em São Paulo, o artista problematiza questões da distinção entre cópia e original e propõe a impossibilidade dos próprios modelos coletivos de representação.