Vinicius e as trilhas de novelas – quatro perguntas para Nelson Motta

Quatro perguntas

02.10.13

Nelson Motta

A primeira trilha sonora de novela lançada em disco e com músicas especialmente compostas para ela foi Véu de noiva, exibida pela Rede Globo em 1969 e 1970. A produção era de Nelson Motta, pioneiro nessa história de sucesso.

Em seguida, a Rede Globo passou a encomendar as trilhas a duplas de compositores, como Roberto Carlos/Erasmo Carlos e Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle. Na opinião de Nelson, a experiência mais bem-sucedida foi a de O bem-amado, com músicas de Toquinho e Vinicius – que serão interpretadas por Pedro Luis e Bruna Caram no IMS-RJ em 8 de outubro.

Nesta entrevista, ele comenta esses primórdios das trilhas de novelas e, com humor e saudade, recorda o amigo Vinicius de Moraes, cujo centenário se completa em 19 de outubro.

1) Como surgiu a necessidade de as novelas terem trilhas e por que, no início, elas costumavam ser entregues a duplas de compositores, em vez de serem compilações de canções?

Antes as novelas não tinham trilhas, eram sonorizadas com discos de filmes americanos e europeus. Com o André Midani na Philips, começaram as trilhas sonoras feitas especialmente para as novelas. Eu produzi os seis primeiros, com Chico, Caetano, Gil, Vinicius, Elis Regina, Marcos Valle etc. Depois surgiu a ideia de dar a uma dupla de compositores a trilha inteira, para dar mais unidade e aproximar a novela do cinema, mas isso já foi quando o Guto Graça Mello produzia as trilhas de novelas.

2) Houve pressão das gravadoras para o fim das trilhas encomendadas?

Não havia nenhuma pressão nem gravadoras, porque as trilhas eram produzidas pela Som Livre, com canções inéditas que eles gravavam com artistas do seu cast. Nesse tempo nenhuma gravadora emprestava artistas para outras. A Som Livre só contava com os seus contratados, poucos, novos e duvidosos.

3) Que trilhas daquele período você destaca e por quê?

A única trilha que deu mais ou menos certo foi essa de Toquinho e Vinicius (O bem-amado). A de Roberto e Erasmo para O rebu ficou fraquíssima, e o cast era tão fraco que até eu gravei uma faixa, “Madame sabe tudo”, imitando Mario Reis. Um horror! Raul Seixas e Paulo Coelho também fizeram uma assim-assim, mas logo o Boni (então vice-presidente de Operações da Rede Globo) e o Guto estavam voltando às trilhas compiladas, inclusive com músicas já gravadas, abrindo caminho para cada gravadora “alugar” suas faixas prontas para a Som Livre, como é até hoje.

4) O show com o repertório de O bem-amado é para homenagear Vinicius de Moraes no seu centenário. Do que você mais se lembra de Vinicius, pessoalmente e musicalmente?

Foi um privilégio tê-lo como mestre e amigo, aprendi muito com ele sobre letras de música e também sobre a vida, as mulheres e a paixão. Na nossa turma de amigos, como Edu Lobo, Francis Hime, Chico Buarque, Toquinho, Wanda Sá, todo mundo seguia à risca as filosofias passionais de Vinicius: que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.

Na festa do meu (primeiro) casamento, Vinicius, amigo dos noivos e dos convidados, já estava meio “melado” quando começaram a insistir para que ele falasse em frente à mesa de doces, enquanto os noivos cortavam o bolo. E ele disse: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto… duro!”. E caiu na gargalhada.

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Vinicius, o também bem-amado – Luiz Fernando Vianna apresenta o show Pedro Luis interpreta Toquinho e Vinicius.

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