Como medir o legado da obra de um compositor? Uma das maneiras é analisando o reconhecimento que teve por seus pares.
Ernesto Nazareth possui a rara qualidade de ser amplamente apreciado tanto pelos músicos da esfera erudita quanto pelos músicos da esfera popular.
No post de hoje iniciaremos um vislumbre sobre a “pegada” que Nazareth deixou na música brasileira através das homenagens musicais que recebeu pelos compositores de música de concerto.
Uma das primeiras grandes homenagens que recebeu, ainda em vida, foi a de seu amigo Heitor Villa-Lobos, que lhe dedicou em 1920 o primeiro de sua monumental série de Choros, para violão solo. Também encontraremos citações de músicas de Nazareth em outras quatro obras de Villa-Lobos:Choros No.8 (que cita Turuna), Concerto brasileiro para dois pianos e coro(que cita Odeon e Atrevido), o 5º movimento Charlot Aviateur (comique) da Suite Sugestive (que cita Apanhei-te, cavaquinho), e o complexo Noneto(que também cita Apanhei-te, cavaquinho).
Francisco Mignone, que também conheceu Nazareth, manifestou seu apreço através das composições Nazarethiana – cinco peças para piano (sobre as peças Sarambeque, Proeminente, Espalhafatoso, e Nenê); Quatro choros(sobre as peças Escovado, Labirinto, Duvidoso e Fon-fon!), a terceira das Quatro peças brasileiras (Nazareth), o choro Este é bem Nazareth, e a “valsa paródia” Apanhei-te meu fagotinho, para fagote solo.
Radamés Gnattali, que ouviu Nazareth tocar na década de 1920, dedicou-lhe a Homenagem a Nazareth para piano solo, a peça Nazareth para dois pianos, e o famoso segundo movimento da Suíte Retratos, composto sobre a valsaExpansiva. Também encontramos uma citação de Apanhei-te, cavaquinho na fuga de um de seus Trios para violino, viola e violoncelo.
Marlos Nobre, outro grande admirador, compôs seu Op.1a com o títuloHomenagem a Nazareth para piano solo, extraído do 3º mov. de seuConcertino para piano e orquestra de cordas Op.1. No op.2 consta suaNazarethiana para piano solo, que depois integrou o 3º mov. do Trio para piano, violino e violoncelo Op.4. Outras obras influenciadas por Nazareth são suas Reminiscências para violão solo Op.78 e o Divertimento para piano e orquestra Op.14, que cita as peças Tupynambá, Tenebroso, Elegantíssima eBrejeiro.
Para além das fronteiras do Brasil, vemos compositor americano William Bolcom dedicando a Nazareth três peças: o 4º movimento de seu Capriccio, intitulado Gingando (Brazilian Tango) Tombeau d’Ernesto Nazareth, para violoncelo e piano; Rag Tango (Hommage to Ernesto Nazareth), para piano solo; e o 1º movimento de sua suíte Recuerdos, intitulado Choro – Hommage to Nazareth, para dois pianos.
Outros compositores do âmbito da música de concerto que homenagearam Ernesto foram:
Camargo Guarnieri (Ponteio No.19 – Homenagem a Ernesto Nazareth, para piano solo);
José Vieira Brandão (Estudo No.2 – Homenagem a Ernesto Nazareth, para piano solo);
Lorenzo Fernandez (Suite Nazarethiana, que permaneceu em rascunhos manuscritos);
Brasílio Itiberê (Homenagem a Nazareth para clarineta, fagote, piano e bateria; Conversa de Bach e Nazareth, para piano solo);
José Alberto Kaplan (Nazarethiana – Suíte em Estilo Popular em três movimentos, para dois violoncelos);
Murilo Santos (Duas Peças ‘Nazarethiana’ em dois movimentos, para piano, violino e violoncelo);
Edmar Fenício (Memórias de Nazareth – Tango Brasileiro, para violão solo);
Nilson Lombardi (Ponteio No.8 – Homenagem a Nazareth, para piano solo);
Alfred Hülsberg (Rapsódia Nazaretiana, para piano e orquestra de sopros);
Cyro Pereira (Fantasia para piano e orquestra sobre temas de Ernesto Nazareth);
Daniel Wolff (As três faces de ernesto, em três movimentos, para piano e orquestra; o terceiro movimento foi transcrito pelo compositor para violão e orquestra de cordas, sob o título de A terceira face de ernesto)
No próximo post continuaremos com as obras dedicadas a Nazareth no âmbito popular.