Garotas, substantivo plural
Carla Rodrigues
26.11.14
Lena Dunham, atriz e roteirista do seriado Girls, problematiza no sexo tudo o que significa para uma mulher não atender à expectativa forjada em moldes impossíveis de alcançar, incluindo seus problemas com a balança. Desde o título de seu livro lançado agora no Brasil, Não sou uma dessas, ela afirma: não sou aquilo que querem que eu seja.
Militância
Bernardo Carvalho
19.11.14
Por pouco não fui atacado em Bruxelas por dois rapazes árabes. Eu caminhava com meu companheiro, e um dos rapazes começou a nos xingar em inglês. Ouvi uma vez, duas, três vezes. E aí me irritei. Se não fosse por dois policiais, poderia ainda estar em algum hospital belga. A militância mostra que a batalha nunca está totalmente ganha. Quanto maior a visibilidade das minorias, mais necessidade haverá de protegê-las da violência.
Contradições do aborto como crime contra a vida
Carla Rodrigues
11.11.14
A criminalização do aborto no Brasil é um desses fenômenos de múltiplas injunções, capaz de reunir preconceitos históricos, dogmas religiosos do valor absoluto da vida, a desigualdade no acesso à saúde, a hierarquia social de gênero e uma poderosa apropriação do Estado pela Igreja Católica.
Filmar o êxtase
Bernardo Carvalho
05.11.14
O incensado diretor canadense Xavier Dolan não ajuda. O que ele tem a dizer em entrevistas é em geral afetado, pretensioso e fútil. Entrei para ver Mommy pronto para sair no meio do filme, mas em menos de dez minutos já queria ficar para a sessão seguinte. Trata-se de uma obra-prima
Dilma, vírgula
Carla Rodrigues
29.10.14
A vírgula no slogan "Dilma, muda mais" pode ser entendida como o mecanismo que pretende virar a frase para a esquerda, argumentar a favor de pautas políticas até agora ignoradas, como o elemento de linguagem que pretende levar a presidente para lugares onde ela ainda não esteve. Quer dizer que está na hora de olhar para os aliados, o que significa olhar para as ruas, onde os protestos iniciados no ano passado pediam esse “muda mais”.
A mesma água que mata a sede é a que afoga
Bernardo Carvalho
22.10.14
Difícil é pensar sem claque. É aí que está a possibilidade de um pensamento independente de verdade, nesse escândalo sem defensores de primeira hora, nessa irrupção sem seguidores (à esquerda e à direita), nessa coragem que é ao mesmo tempo antevisão e suicídio, ato de loucura e gesto artístico. São raros os casos de pensadores desse calibre. Pasolini era um deles.
O que as urnas dizem das ruas, o que as ruas dizem das urnas
Carla Rodrigues
15.10.14
O resultado do primeiro turno das eleições vem sendo interpretado como o fracasso das manifestações de rua diante da vitória de uma bancada legislativa conservadora. Mas só pode estar decepcionado quem parte da premissa de que a insatisfação manifesta em junho de 2013 deveria ter sido necessariamente canalizada para eleitores de esquerda.
O espectador furioso
Bernardo Carvalho
08.10.14
Há alguns meses, fui atacado em um jornal francês, por causa de uma peça que escrevi. Não vou defender a tese de que a exasperação da crítica tem necessariamente a ver com o mérito provocador das peças. Também não sou dos que acham que crítica tem que ser “construtiva”. Costumo me manifestar com veemência contra as coisas que abomino, torcendo para que desapareçam.
Posições sobre a forma partida
Carla Rodrigues
01.10.14
Escolhemos candidatos de determinados partidos – palavra que está longe de poder designar união, por tudo que nela contém de quebra, ruptura – como se estes nos garantissem unidade em um programa de governo. Votar com essa expectativa é continuar votando a partir de uma formulação anacrônica de democracia.
Abrir os olhos no escuro
Bernardo Carvalho
25.09.14
Um jovem escritor norte-americano afirmou que abandona um livro quando percebe que o autor concorda com o niilismo do protagonista. O comentário, antes de ser uma caricatura do espírito positivo americano, é um atestado de burrice que diz muito sobre a miséria do pensamento literário de um escritor em perfeita sintonia com o seu tempo.
