The Newsroom, badalada nova série de Aaron Sorkin, encerrou sua primeira temporada na semana passada (nos E.U.A., aqui ainda está pela metade, sendo exibida pela HBO) acertando dois alvos com uma mesma pedra. Primeiro, prova que é possível que o entretenimento moderno tenha um pingo de inteligência. Segundo, traz para a arena do showbusiness do século 21 um ponto de vista pouco ouvido (apesar das paranoias) – o da política progressista. Sempre do ângulo dos bastidores (desta vez de um telejornal), o festejado e premiado roteirista – e agora produtor – encerrou a primeira temporada de sua nova série mostrando que é um dos grandes nomes da cultura pop norte-americana deste século.
Aaron Sorkin
Não é a primeira vez que Sorkin se atém a tais metas. Na verdade, toda sua carreira pode ser vista como uma obra dedicada a estes três temas: bastidores, política progressista e nenhuma trivialidade. É dele a famosa frase “Você quer a verdade? Você não consegue suportar a verdade!” da peça A few good men, seu primeiro feito, ainda nos anos 80, que virou o filme Questão de honra, com Jack Nicholson, Demi Moore e Tom Cruise no início da década seguinte. Foi nos anos 90 em que começou a flertar com Hollywood, a princípio reescrevendo roteiros de outras pessoas, em thrillers de ação com Sean Connery ou Will Smith. Mas começou a se destacar na paisagem quando lançou a série Sports Night, sobre o dia a dia numa redação de um programa televisivo de esportes, que lhe abriu espaço para seu primeiro grande trunfo, a série The West Wing, sobre as diputas políticas nos corredores da Casa Branca. A série deu-lhe gás para investir em sua carreira cinematográfica, quando escreveu Jogos de poder em 2007 (de Mike Nichols, sobre o início da guerra da URSS contra o Afeganistão), A rede social em 2010 (de David Fincher, sobre a criação do Facebook) e O homem que mudou o jogo em 2011 (de Bennett Miller, sobre beisebol). Toda sua obra culmina para Newsroom, série cujos 10 primeiros episódios foram ao ar no segundo semestre deste ano.
A partir daí, o programa liderado por Will sofre uma série de reveses. O primeiro deles diz respeito à própria figura do protagonista, tachado como “o Jay Leno do telejornalismo” por não incomodar ninguém. A partir do susto do discurso dado de improviso – e que vira hit no YouTube da ficção -, o personagem passa por um processo de autoanálise que culmina com a publicação de um perfil na capa da revista The New Yorker, no último episódio da primeira temporada. Por toda a temporada, revê casos passados (especialmente com a jornalista MacKenzie Hale, vivida pela inglesa Emily Mortiner, que se torna produtora do telejornal a partir do primeiro episódio), retoma o divã, questiona seu próprio uso de drogas e seu papel paradoxal de celebridade do mundo das notícias. Newsroom parte do pressuposto de toda grande série – um mergulho interior em uma personalidade dúbia – e, como toda grande série, não depende apenas do protagonista e seu intérprete para sobreviver.
Mesmo essas críticas tornam Newsroom obrigatório no 2012 que vivemos – de polarizações políticas, espetáculo da notícia e déficits de atenção. Responde à agressividade conservadora da primeira década do século com bom humor e inteligência, sem precisar apelar para sexo, drogas ou violência. Uma espécie tida como extinta na TV do século 21, felizmente ainda vive.
* Na imagem que ilustra o post: o ator Jeff Daniels.