Um crítico em meio ao todo
Orlando Margarido
21.03.17
Tome-se aleatoriamente um ensaio de José Carlos Avellar e será possível detectar muitas das características de seu pensamento e ofício. A análise crítica, seja relativa a um período cinematográfico, seja específica a um filme, era uma delas. Era frequente o crítico adotar o registro pontual para chegar ao mais amplo. Afrontava seu tema não numa análise fechada em si, mas em variado "diálogo" com textos e entrevistas de pares teóricos e realizadores. Avellar fazia ecoar, assim, pontos de vista convergentes ou divergentes a uma tese. Esse procedimento singular de análise foi sendo estabelecido e aperfeiçoado aos poucos.
Réquiem pelo Cinema Novo
José Geraldo Couto
20.04.12
O juízo crítico mais implacável sobre o Cinema Novo que conheço eu ouvi anos atrás de Ivan Cardoso, por sua vez representante da segunda dentição "marginal": "Eram advogados, jornalistas, sociólogos, que se serviam do cinema para fins políticos. Não eram cineastas, não amavam o cinema, mal sabiam segurar uma câmera". Claro que há exagero e rancor na declaração. O Cinema Novo produziu pelo menos um gênio (Glauber) e algumas obras-primas. Mas há uma boa parte de sua filmografia que me parece datada, ancorada num discurso populista, programático, verborrágico, não raro panfletário.
Ruy Guerra e quase memória
José Carlos Avellar
19.08.11
Ruy faz um cinema que dança diante dos olhos para nos sugerir que importante, de fato, é ver o que não se encontra ali, visível. O que se dá a ver, mesmo se coisa vistosa, de encher os olhos, é apenas uma imagem meio imprecisa de um especial momento vivo que descobrimos / inventamos / vivemos (estimulado pelo rastro deixado no filme) e guardamos para sempre na memória. A queda é feito sinal pequeno que nos ajuda a reconstituir, no vazio entre as imagens, graças à estrutura invisível que depois da projeção ordena e acende imagens na memória, o que um certo dia a gente viveu ou viu quando viu o filme.