Mulheres

Por dentro do acervo

08.03.13

No Dia Internacional da Mulher, o Instituto Moreira Salles apresenta um painel de mulheres retratadas no século XX por grandes fotógrafos e fotógrafas. São personagens anônimas, com exceção do autorretrato de Hildegard Rosenthal. As imagens selecionadas, que integram o acervo do IMS, vão de 1910 a 1990, mostrando muito do Brasil do século passado (e ainda deste): a vida em casa, no trabalho, na escola, na arte, na festa popular, na pobreza indesculpável.

Vicenzo Pastore | Retrato de mulher lendo, em múltipla exposição, c. 1910

Ao final do conjunto de 23 fotos, há retratos de seis fotógrafas cujos acervos estão no IMS.

Vicenzo Pastore | Retrato de mulher com criança no colo, c.1910

 

Augusto Malta | Mulheres em almoço, 1913

 

Sete chaves

Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas como um
marechal do ar fazendo alegoria. Estou tocada pelo
fogo. Mais um roman à clé?
Eu nem respondo. Não sou dama nem mulher
moderna.
Nem te conheço.
Então:
É daqui que eu tiro versos, desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda, seus três
monumentos pátrios, e passa o ponto e as luvas
(Ana Cristina Cesar)

 

Marc Ferrez | Coleção Gilberto Ferrez | Retrato de mulher, c. 1914

 

Augusto Malta | Coleção Brascan Cem anos no Brasil | Telefonistas, 1921

 

Creio que a mulher conquistou seu espaço em todas as áreas. Mas sem exageros – não gosto quando a mulher endurece o coração – entendo que ela está conseguindo um equilíbrio, sem fanatismos, sem radicalismos. Acho que o movimento feminista começou com muita sede ao pote, mas agora há um amadurecimento e o futuro da mulher é ao lado do homem.

Se a mulher é escrava, o homem também o é.
(Lygia Fagundes Telles, “Encontro com Lygia Fagundes Telles”, Caderno Viver, Jornal Correio Popular, 28/08/88)

 

Autor desconhecido | Hildegard Rosenthal cozinhando, c. 1942

 

Peter Scheier | Equilibrista no circo Piolim, 1945

 

Thomaz Farkas | Bailarina, c. 1946

 

José Medeiros | Normalista do Instituto de Educação, c. 1949

Até que um dia em mim descobriram uma mocinha, abaixaram meu vestido, fizeram-me usar novas peças de roupa e consideraram-me quase pronta. Aceitei a descoberta e suas consequências sem grande alvoroço, do mesmo modo distraído como estudava, passeava, lia e vivia.
(Clarice Lispector, no conto “Obsessão”, 1941, p. 86)

Marcel Gautherot | Índia em Goiás, c. 1950

 

Carlos Moskovics | Nadadora, c. 1950

 

O destino de uma mulher é ser mulher.
(Clarice Lispector,  A hora da estrela, 1977)

 

Haruo Ohara | Cafezal, c. 1950

 

Peter Scheier | Bastidores de desfile de moda no Masp, 1951

 

Henry Ballot | Retirantes, 1952

 

Alice Brill | Fila de ônibus no Vale do Anhangabaú, c. 1954

 

Marcel Gautherot | Festa popular Segunda-feira Gorda da Ribeira, c. 1955

 

José Medeiros | Profissionais de uma danceteria, c. 1955

 

Maureen Bisilliat | Sertão, c. 1970

 

Stefânia Bril | Menina com violoncelo, Festival de Inverno de Campos do Jordão, 1973

 

Renunciando, quando jovem, a ser apenas a gatinha apetecível, quando adulta a simples reprodutora da espécie; quando velha, a relíquia encostada, boa apenas para criar netos e pintos, a mulher se sente no direito de experimentar as infinitas opções que vê à sua frente. Aceitando o desafio de uma sociedade cada vez mais competitiva e exigente, ela quer a sua cota nas tarefas, nas tentativas e nas soluções.
(Rachel de Queiroz, “O Dia da Mulher”, Jornal Última hora, 19.03.84)

Maureen Bisilliat | Retrato de índia, c. 1975

 

Dulce Soares | Rua São Caetano, a rua das noivas, c. 1978

 

Madalena Schwartz | Festa de Iemanjá, c. 1985

Noite carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo.
(Ana Cristina Cesar)

 

Otto Stupakoff | Ansiedade, c. 1990