O concurso para a escolha do projeto para a nova sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo é o tema da revista Monolito, que tem lançamento esta noite na atual sede do IMS em São Paulo, no bairro de Higienópolis. O concurso foi realizado em dezembro do ano passado e avaliou projetos apresentados por seis escritórios de arquitetura brasileiros. No vídeo abaixo, produzido pelo IMS, é possível assistir a trechos da apresentação do escritório vencedor, dirigido pelos arquitetos Vinícius Andrade e Marcelo Morettin. Em razão da composição internacional do júri, que incluía o francês Jean-Louis Cohen, o mexicano Ricardo Legorreta (que faleceu logo após o concurso), e os americanos Richard Koshalek e Karen Stein, todas as apresentações foram feitas em inglês. A exemplo do que ocorreu em disputa recente pelo projeto do novo MoMa, os arquitetos foram convidados a incluir todos os itens numa caixa de madeira, a qual deveria abrigar necessariamente fotomontagens e uma maquete na escala 1:1200.
Apresentação do projeto vencedor do novo prédio do IMS em São Paulo from IMS – Instituto Moreira Salles on Vimeo.
O júri que escolheu o projeto foi organizado pela nova-iorquina Karen Stein, membro do corpo de jurados do Prêmio Pritzker, tido como o Nobel da arquitetura. Ao lado do crítico brasileiro Fernando Serapião, editor da revista Monolito e também membro da comissão avaliadora, Karen veio ao Brasil em meados do ano passado para conversar com arquitetos de 15 escritórios. Dessas conversas iniciais, saiu a lista dos seis selecionados para a competição: Una Arquitetos, Arquitetos Associados, Bernardes + Jacobsen, Márcio Kogan, Ângelo Bucci e Andrade Morettin.
No início do processo, a ideia era realizar um concurso entre arquitetos do mundo todo. Com o tempo, porém, ganhou corpo o entendimento de que faria mais sentido buscar entre arquitetos brasileiros o idealizador do novo prédio, já que o Instituto se tornou um marco no apoio à cultura brasileira. “O novo projeto contribui para um processo de renovação do IMS, sem deixar de lado seu compromisso com o rigor e preservação de acervos históricos”, diz o Superintendente do IMS, o jornalista Flávio Pinheiro. “Desde sua fundação o IMS tem vínculos com a boa arquitetura — e o concurso dá continuidade a isso.”
Ao lado de Pinheiro, também compunham o júri o diplomata e membro do conselho de arquitetura e design do MoMa, André Corrêa do Lago, e Pedro Moreira Salles, membro do Conselho do IMS, a quem coube a tarefa de presidir a comissão avaliadora. “É parte da missão do IMS descobrir arte brasileira, memória brasileira, talentos brasileiros”, afirma Pedro Moreira Salles, que começou a idealizar o concurso em janeiro do ano passado. “Fiquei muito contente com o processo, que permitiu grande interação entre os escritórios e o júri.”
Em entrevista ao blog do IMS, Karen Stein falou brevemente sobre o processo de escolha dos escritórios e do projeto vencedor. Karen frisa a necessidade de um concurso dessa natureza partir de uma amostragem capaz de dar rosto à nova geração – e não ficar apenas nos nomes de maior visibilidade. “Queríamos uma renovação em relação à geração consagrada de Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, conhecida e respeitada por todos há muitos anos. E esse concurso mostrou ao júri que a nova geração de arquitetos brasileiros faz uma arquitetura que não fica a dever aos melhores do mundo.”
No projeto vencedor, Karen destaca a capacidade de democratizar a experiência do espaço urbano. Como se pode perceber nas imagens publicadas abaixo e nos slides exibidos no vídeo, o futuro prédio do IMS traz para o centro do edifício um prolongamento da calçada da avenida Paulista, transformando o terceiro andar, vazado, em térreo e ponto de entrada para as demais áreas do conjunto.
Translúcido, o museu é envolvido por uma segunda pele – uma espécie de envelope transparente – que permite que do exterior se visualizem as silhuetas das entranhas e dos movimentos no interior do prédio. Além disso, o prédio dialoga intensamente com o ambiente ao redor e as outras edificações culturais que estão espalhadas pela avenida. “O projeto do novo prédio torna o IMS aberto para o público e o recepciona para diversas experiências”, avalia Karen.
Flávio Pinheiro ressalta atributos semelhantes: “Admiro a leveza desse projeto, seu traços elegantes, arejados. Um de seus maiores méritos é a franqueza com que fala com a rua. É convidativo e aberto para o público.” Pedro Moreira Salles lembra ainda a inventividade das soluções apresentadas pelos arquitetos. ” É um projeto que trouxe respostas a um terreno difícil, comprido e com pouca área de frente”, diz. “Eles também foram muito felizes na distribuição do programa e na escolha dos materiais.”
O vídeo abaixo permite visualizar, por fora e por dentro, os diversos ambientes que coexistirão no museu.
IMS – Instituto Moreira Salles São Paulo from BijaRi on Vimeo.
Karen prefere não estabelecer distinção de qualidade entre os projetos: para o leitor que se interessar, a edição da Monolito traz um texto alentado sobre o processo de escolha e farta coleção de imagens de cada uma das propostas apresentadas. Escrito por Serapião, o artigo oferece o ponto de vista de quem esteve presente no concurso e acompanhou cada uma das etapas. “O projeto permitia mudanças internas sem afetar o caráter principal, a segunda pele. Era tudo que o júri esperava. Sem contar que a área expositiva, com 1.280 metros quadrados, era a maior entre os concorrentes”, afirma ele no texto de abertura da revista.
Nem por isso a decisão foi simples. Karen Stein lembra que todos os projetos eram interessantes e a escolha foi difícil. “Não é uma ciência – é escolher um time para trabalhar”, diz ela. “Creio que o processo foi muito importante para todos os escritórios, não apenas para o vencedor. Agora, o júri está familiarizado com esses trabalhos e pode haver novas oportunidades de encontro no futuro”.