Carla Rodrigues

Brasil, capital Paris

Carla Rodrigues

29.06.16

Carla Rodrigues comenta dois livros recém-lançados que, à primeira vista, em nada se parecem: A tortura como arma de guerra, da jornalista Leneide Duarte-Plon, e Gênero e trabalho no Brasil e na França, coletânea de artigos organizada pelas pesquisadoras Alice Abreu, Helena Hirata e Maria Rosa Lombardi. Ainda que discutam temas muito distintos. ambos os livros têm em comum o debate das difíceis e intrincadas relações do Brasil com a França, em relação a quem o país ocupa uma posição ambígua.

Do ruído ao silêncio

Carla Rodrigues

15.06.16

A crise política deflagrou uma inflação de debates, discursos, aulas públicas, discussões, encontros, manifestações, mobilizando pensadores formados nas universidades brasileiras, agora alvo não apenas de uma ameaçadora política de desmonte econômico, mas sobretudo também novo alvo do “Escola sem partido”. Calar a viva capacidade de crítica significa um retrocesso obscurantista sob o qual corremos o risco de morrer. Em silêncio.

O corpo das mulheres como campo de batalha

Carla Rodrigues

01.06.16

Em cartaz no Rio de Janeiro, O corpo da mulher como campo de batalha, peça encenada a partir de texto do romeno Matéi Visniec, trata do estupro como estratégia na Guerra da Bósnia, o maior genocídio do século XX depois da Segunda Guerra. Cada palavra dita pela vítima para sua psicanalista, uma especialista em neurose traumática, pode ser ouvida pela plateia carioca com uma força dramática além da densidade do texto original, sobretudo por ter estreado no mesmo dia em que veio à tona a notícia do estupro da jovem de 16 anos, violentada a primeira vez pelos infinitos homens, violentada a segunda vez quando inúmeras vezes é acusada de ter provocado o crime do qual foi vítima.

O mundo se divide…

Carla Rodrigues

18.05.16

O mundo se divide entre aqueles que acreditam que o mundo se divide em duas partes e os que acreditam que tudo é muito mais complicado do que isso. Esteja de que lado você estiver, é impossível ignorar o problema da representação  na não representatividade do ministério do governo interino. Um regime democrático depende da representação de infinitas singularidades, impossíveis de estar contidas em qualquer estrutura representativa, mas possíveis de não serem totalmente ignoradas como se não existissem.

Ao passado, ao trabalho

Carla Rodrigues

04.05.16

No Brasil, coube à filósofa Jeanne Marie Gagnebin a importante tarefa de ressignificar a melancolia no pensamento de Walter Benjamin e recusar o senso comum de o pensador alemão seria um saudosista em busca do tempo perdido. Em seu livro mais recente, ela trabalha com a ideia de que memória e rememoração funcionam em Benjamin como instrumentos políticos de resistência. Com isso, Gagnebin ajuda a pensar no que estamos vendo acontecer todos os dias: numa crise política, a disputa nunca é apenas em torno do presente, mas também ou principalmente sobre a história.

O que as palavras dizem das coisas

Carla Rodrigues

19.04.16

Para Pierre Dardot e Christian Laval, autores de A nova razão do mundo, o importante é mostrar como, no neoliberalismo, a concorrência, método capitalista por excelência, despreza qualquer regulação de trocas e destitui o Estado do papel de conter o mercado a partir de regras do direito público. A supremacia da gestão privada se expande das empresas para a vida e para a “arte neoliberal de governar os indivíduos”.

Mulheres, da planície ao planalto

Carla Rodrigues

05.04.16

Reivindicação dos direitos da mulher, da filósofa inglesa Mary Woolstonecraft, mostra como o pensamento sobre “a condição da mulher” foi historicamente classificado como desimportante. Escrito na Inglaterra do século XVIII, o livro dialoga com os problemas filosóficos e morais do Iluminismo, mas também pode ser lido à luz da misoginia contemporânea. Woolstonecraft discute com os grandes filósofos do seu tempo e discute questões que chegam até nós, herdeiros das Luzes e de uma certa narrativa moderna, digamos assim, vitoriosa, mas nem por isso menos questionável.

Amor e política em tempos difíceis

Carla Rodrigues

22.03.16

Em tempos de whatsapp, Facebook e Twitter, o vazamento de áudios de conversas telefônicas mobilizam não apenas pelo seu conteúdo, mas pelo poder da voz em transmitir aquilo que vai além do texto. Na velocidade de mensagens curtas e fragmentadas, a comunicação é mera ilusão tanto na política quanto no amor.

Novas razões para comemorar o Dia Internacional da Mulher

Carla Rodrigues

08.03.16

Há ainda um sentido em comemorar o Dia Internacional da Mulher? Hoje, no que talvez seja o auge da terceira onda feminista, a pergunta sobre a validade do Dia Internacional da Mulher não vem necessariamente do inimigo conservador – embora até possa vir também –, mas está instalada dentro daquilo que posso chamar, ecoando Judith Butler, de “problemas de gênero”. Até que ponto faz sentido, em um contexto de questionamento de classificações de gênero, a comemoração do Dia Internacional da Mulher, afirmação máxima da identidade feminina?

Desafios de pensar sobre as obrigações da maternidade

Carla Rodrigues

18.02.16

Poucas, muito poucas mães admitem – para si mesmas ou para a sociedade – as dificuldades que vivem. E as corajosas o suficiente para fazê-lo são linchadas, como aconteceu com a dona de casa Juliana Reis, cujo perfil no Facebook foi bloqueado depois de afirmar que “detestava ser mãe”.