O tudo e o todo na filosofia hoje
Carla Rodrigues
23.09.15
Ser filósofa hoje é reconhecer a impossibilidade de falar do tudo e do todo, é fazer desse reconhecimento o motor de um pensamento cuja tarefa passa a ser sair da impotência para o impossível. Nessa estranha conjunção, talvez o filósofo de hoje possa se reencontrar com algum sentido que não seja mais nem o do tudo, nem o do todo, e assim se reconciliar com as ambições mais simples e por isso mesmo, mais ousadas.
Butler e a violência ética: de quem é a vida afinal?
Carla Rodrigues
09.09.15
Judith Butler critica as duas correntes historicamente opostas na filosofia moral - liberais e comunitaristas - rejeitando, ao mesmo tempo, a exigência de um sujeito estabelecido como senhor de si mesmo para fundamentar decisões éticas e criticando a exigência desta identidade comum como condição para o reconhecimento ético. Assim, rechaça o niilismo e se abre à possibilidade de inventar algo novo e livre de enquadramentos.
A tal da governabilidade
Carla Rodrigues
26.08.15
A bancada religiosa, ecumênica quando se trata de barrar os avanços na pauta moral, vem crescendo desde a Constituinte de 1988 e responde à expansão da presença das denominações religiosas neopentecostais na sociedade brasileira. A ascensão do conservadorismo é resultado da necessidade de construir uma base aliada no Congresso que sistematicamente exige em troca o bloqueio de iniciativas como a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia.
Uber, primo do Airbnb, neto do Napster
Carla Rodrigues
12.08.15
Não, a rede não é como você usa, por que isso supõe um livre-arbítrio do usuário que não existe; não, a rede não é neutra, é um ambiente politicamente controlado; não, a rede não é espaço de economia criativa, porque por trás destes negócios estão grandes corporações que migraram sua fonte de lucro da velha para a nova economia.
Receber e reconhecer Judith Butler no Brasil
Carla Rodrigues
29.07.15
Durante mais de 10 anos, Problemas de gênero foi o único título em português de Judith Butler, que desembarca no Brasil no começo de setembro para participar de um congresso acadêmico na UFBA. A vinda da filósofa ao Brasil pode ser uma chance de desfazer leituras equivocadas, como a que reduz seu pensamento à crítica ao binarismo de gênero, sem tomar como político os termos em que a questão se coloca.
Sempre teremos Paris
Carla Rodrigues
01.07.15
Em Paris, capital da modernidade, do geógrafo inglês David Harvey, o leitor brasileiro vai encontrar a versão europeia do que foi a transformação do Rio de Janeiro no início do século XX, quando as avenidas foram alargadas, os pobres, afastados, e os espaços urbanos organizados em prol da ordem capitalista. Paris nos ajuda a entender que a passagem do antigo para o novo não se dá sem traumas, sem que o morador da cidade se sinta um estrangeiro, como se queixam os cariocas, sem saber mais que caminhos tomar para chegar a bairros tradicionais como o Centro.
Os limites dos poderes
Carla Rodrigues
17.06.15
Fiquei espantada em descobrir que a palavra "empoderamento" está na moda, pois ela já esteve na crista da onda nos anos 1990 nos movimentos sociais no Brasil e havia caído em desuso. Há uma imensa distância entre a palavra e discussões que já seguem avançadas: os limites da estratégia que exige a formação de um grupo identitário que reivindica seu fortalecimento e o fato de que reivindicar empoderamento é ocultar da pauta de que forma de poder estamos falando.
Está dada a “partidA” para um referente vazio
Carla Rodrigues
03.06.15
Marcia Tiburi propôs a criação de um partido feminista (chamado "partidA"), ou seja, sair do armário e entrar na política parlamentar. Acredito que, se a partida for dada em direção a um referente vazio de conteúdo, capaz de representar não um grupo previamente restrito a certas características identitárias, mas a todas as singularidades, funcionará para além das restrições da atual estrutura partidária e ainda trará um novo instrumento para questioná-las.
Duas vezes Agamben: preferia não
Carla Rodrigues
20.05.15
No entrelaçamento entre política e ativismo nas redes sociais, muitos de nós experimentamos o desconforto de ser interpelados por discursos de ódio e incontáveis debates vazios de conteúdo que brotam da crise da legitimidade de discursos. Diante dos debates vazios de conteúdo ou argumentos, da mera disseminação de ódio e preconceito, o “preferia não” ainda é a melhor resposta.
Profissão, professor, profanação
Carla Rodrigues
07.05.15
Quando o saber ainda não era mera circulação de mercadoria, a profissão de professor era consagrada. Como figura encarnada do sabedor, o professor, a quem cabia promover a formação, cai da consagração para a profanação. Apanhar da PM nas ruas de Curitiba, fazer greves invisíveis e exercer uma profissão cujo piso salarial na rede pública é de R$ 1.917,78 – valor de 2015, considerado um imenso avanço em relação aos anos anteriores – é parte dessa imensa história de profanação.