O mundo vertiginoso de Kiarostami
José Geraldo Couto
22.04.16
Quando o cineasta iraniano Abbas Kiarostami surgiu aos olhos do mundo com filmes como Onde fica a casa do meu amigo? (1987) e Close-up (1990), houve quem se apressasse em dizer que seu sucesso no circuito dos festivais se devia a uma curiosidade pelo exotismo. O tempo provou que esses críticos estavam errados. Nas décadas que se seguiram Kiarostami construiu uma das filmografias mais sólidas e originais de nossa época.
O cinema, o futebol e as tetas
José Geraldo Couto
15.04.16
Ave, César é talvez a obra mais transparente e programática dos irmãos Coen, porque lhes permite retratar ironicamente as entranhas da indústria cinematográfica e ao mesmo tempo brincar com vários gêneros consagrados por ela. Em O futebol, o diretor Sergio Oksman registra a convivência o pai em São Paulo durante o mês da Copa do Mundo de 2014. Já O signo das tetas traz uma narrativa enigmática, alegórica, marcada por uma iconografia religiosa sincrética, em que se combinam a extrema materialidade dos corpos e da natureza e uma fugidia espiritualidade.
Mais forte que os clichês
José Geraldo Couto
08.04.16
Seria possível realizar hoje, nos Estados Unidos, dentro dos parâmetros do cinema comercial, um drama enxuto, adulto e inteligente, que não resvale para o previsível e convencional? Mais forte que bombas, do norueguês Joachim Trier, atesta que sim. Já em Juventude, de Paoo Sorrentino, o espetáculo visual ameaça sufocar a substância humana do drama, situando-se sempre na fronteira entre o estilo e a afetação, entre o grande cinema e um comercial da M. Officer dos anos 1990.
Amada morta, cinema vivo
José Geraldo Couto
01.04.16
O thriller do diretor baiano Aly Muritiba (que já foi cobrador de ônibus, bombeiro e carcereiro enquanto estudava história em São Paulo e depois cinema em Curitiba) é um dos grandes filmes brasileiros do ano e a prova viva, muito viva, de que é possível subverter os códigos e fórmulas dos gêneros estabelecidos e construir uma obra original.
Mundo cão e a barbárie à espreita
José Geraldo Couto
25.03.16
No Brasil e no mundo, vivemos tempos ferozes. A animalidade do homem parece estar à flor da pele, prestes a romper, por um nada, a fina crosta de civilização que nos separa da barbárie. Deliberadamente ou não, esse “espírito do tempo” permeia o drama policial Mundo cão, do brasileiro Marcos Jorge, o mesmo diretor de Estômago e Corpos celestes.
O cinema mediúnico que vem da Tailândia
José Geraldo Couto
18.03.16
O filme mais recente de Apichatpong Weerasethakul, Cemitério do esplendor, aposta tudo na imaginação e na sensibilidade do espectador. É pelo prosaico que o cineasta chega à sua poética. Não há efeitos de luz, não há cenários “bonitos”, não há música embaladora. As imagens são límpidas, despojadas, cotidianas.
Como nascem as bruxas
José Geraldo Couto
11.03.16
A bruxa, de Robert Eggers, é uma estreia impressionante, especialmente pela segurança narrativa do diretor, seu domínio do ritmo e da composição. A fotografia é notável sobretudo nas cenas internas noturnas, com seu magnífico claro-escuro de pintura barroca, que deixa sempre boa parte do quadro num negro profundo, os objetos e seres cambiando sob a luz bruxuleante das velas.
Outros dois lançamentos que merecem destaque são os franceses Astrágalo, de Brigitte Sy, e É o amor, de Paul Vecchiali.
O Oscar e os filmes “sobre”
José Geraldo Couto
04.03.16
De quando em quando, a Academia decide premiar um filme mais pela relevância ou contundência de seu “assunto” do que propriamente por seu valor cinematográfico. É o caso evidente de Spotlight: segredos revelados, assim como foi o de Doze anos de escravidão. São os filmes “sobre”: sobre o Holocausto, sobre a escravidão, sobre a indústria do tabaco, sobre a ameaça nuclear.
André Novais, cinema de corpo e alma
José Geraldo Couto
25.02.16
Está florescendo diante dos nossos olhos a obra de um cineasta singular, o jovem André Novais, mineiro de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Ele finca a câmera em território familiar para observar e recriar o mundo a partir de um ponto de vista muito sólido e pessoal.
Ela volta na quinta, seu primeiro longa-metragem, que chega às telas das grandes cidades brasileiras depois de ter sido premiado em Brasília, Buenos Aires e Curitiba, é, na falta de definição melhor, um falso documentário sobre uma família verdadeira.
O cinema essencial de Lav Diaz
José Geraldo Couto
19.02.16
Recomendar filmes filipinos de mais de quatro ou cinco horas de duração, exibidos à margem do circuito comercial? É uma chance rara proporcionada aos cinéfilos de São Paulo e do Rio de vivenciar um cinema ao mesmo tempo substancioso e cristalino, uma oportunidade de lavar nossos olhos congestionados pela profusão de imagens vazias, arejar o cérebro atulhado por fórmulas e clichês. Estou falando de Lav Diaz e seus filmes Norte, o fim da história (2013) e Do que vem antes (2014).