Ivan viu o mundo
Paulo Roberto Pires
10.06.12
Sempre me intrigou que Ivan vivesse num Rio de Janeiro imaginário, devidamente azedado (ou reforçado, vai saber) quando esteve aqui pela última vez em "vinte oito anos, seis meses e sete dias" (nas suas contas) para escrever "Eu conheço esse cara", crônica-diário publicada no primeiro número da piauí. A idade me fez entender melhor, no entanto, que a General Osório pode, sim, fazer esquina com a Charing Cross. E, também, entender melhor o Ivan Lessa.
Uma hilária temporada com Christopher Hitchens
Paulo Roberto Pires
16.12.11
Quando se descobriu com câncer, Christopher Hitchens escreveu que lamentava a possibilidade da morte por eventualmente não ver os filhos casarem e por deixar de escrever os obituários de Henry Kissinger e Bento XVI, dois de seus alvos preferidos. Essa vida é cachorra mesmo e aqui estou eu, batucando um post sobre a morte de um dos poucos intelectuais que merecia esse nome.
Cosic, o não-Nobel
Paulo Roberto Pires
06.10.11
Muita gente não estranhou quando, ao abrir esta manhã o site da Academia Sueca, deu com o nome de Dobrica Cosic como vencedor do Nobel de Literatura de 2011. (...) Menos de 15 minutos depois, era anunciado em Estocolmo o nome do poeta sueco Tomas Tranströmer, o verdadeiro vencedor e, também ele, apontado como um dos favoritos. Cosic foi "eleito", isso sim, por um grupo de autodenominados "ativistas" que, num site cujo endereço é confundível com a página oficial do Nobel, reproduziram com precisão o design e a linguagem pomposa dos anúncios oficiais do prêmio.
Reaprender a ouvir
Paulo Roberto Pires
19.08.11
Ontem ouvi um disco. E eu com isso? Você pode – e deve – perguntar. E pergunto eu também: há quanto tempo você não ouve um disco? Há quanto tempo não senta relaxadamente, na companhia de amigos, e fica quarenta e tantos minutos calado, bebericando apenas, sem excessos, concentrado na música? Detesto a tecnofobia edificante... Continue reading →
Ensaio para quem precisa
Paulo Roberto Pires
05.07.11
Obviamente sediada em Londres, a Notting Hill começou a publicar em maio último e tem em seu catálogo oito títulos. Se, como quer Lucasta, o ensaio é um oásis de personalização na algaravia da web, uma editora nestes moldes é igualmente um bem vindo refúgio numa época edições massivas e produção acelerada em que o volume não é nem poderia ser compatível com a qualidade.
Um passeio na Hipsterlândia
Paulo Roberto Pires
30.05.11
A revelação se deu ao me ver refletido entre a vitrine de um café e uma galeria do Brooklyn: de camisa polo, fico uma besta completa. Tio Gay Talese me ensinou que Nova York é uma cidade em que as coisas passam despercebidas. Espero que do outro lado do rio continue valendo a máxima, pois naquela região gente inteligente SEMPRE usa xadrez e listras, cavanhaques e barbichas, chapéus, topetes em diversas direções e óculos de aros grossos.
Ensaístas, uni-vos
Paulo Roberto Pires
25.03.11
A serrote completa três anos. Criada e pilotada até a quinta edição pelo Matinas Suzuki Jr. e desde o número seguinte por mim, a revista tem motivos de sobra para comemorar este aniversário: afinal, são mais de 1.500 páginas publicadas que cultivam o ensaio, gênero popularíssimo no mundo anglo-saxão e, por aqui, associado quase sempre à solenidade acadêmica e à sisudez pespontada por notas de pé de página - que Edmund Wilson chamava, com razão, de arame farpado em volta do texto.
Diante da memória dos outros
Paulo Roberto Pires
16.03.11
Consagrada pelo culto a autores "densos" como Beckett, Walter Benjamin ou Robert Walser, esnobemente hostil ao que via como "vulgaridade", terminou virando cartoon da New Yorker ou, como lembra Lopate, ganhando uma homengem em Gremlins 2 - um dos monstrinhos resume assim a reivindicação de seu bando: "Queremos civilização: música de câmara, Convenção de Genebra, Susan Sontag!". Mas o pior ainda viria: a posteridade e, com ela, as lembranças dos outros. Definitivamente fora do controle de seu ego avantajado.
1966, um ano qualquer
Paulo Roberto Pires
11.03.11
Annus mirabilis é a expressão latina para um ano excepcional, que logo se transforma em marco, farol de uma época. Basta pensar em 1789, 1968 ou 2001 para imaginar livros, aulas, congressos, debates. Antoine Compagnon, titular de Literatura Francesa Moderna e Contemporânea no Collège de France entra no seu sexto ano como professor da instituição máxima do ensino na França dedicando um curso inteiro a 1966, designando-o como annus mirabilis, ou seja, um ano notável, prodigioso, farol.
Monarco e seu anjo
Paulo Roberto Pires
26.01.11
Se eu for falar da elegância e da nobreza de Monarco, hoje eu não vou terminar. Até porque é chover no molhado. Ontem, com a fachada do IMS iluminada por uma delicada chama azul-Portela, ele cantou todo o seu disco de estreia. Disso tudo vocês já sabem (...). Saí emocionado, como todo mundo de carne e osso que por aqui esteve, mas com outro personagem na cabeça. Um ilustre ausente que para mim dividiu o palco com ele: Zeca Pagodinho.