Bruna Bruna,
Chacal
10.04.13
E ao meu lado, um ladrão baleado, entre bandagens e tubos, aplaude e implora: a autora... a autora... Eu digo a ele: contente-se com os poemas. Ela mora num outro estado de espírito, num sítio lá longe. Talvez eu tenha tido mesmo um traumatismo.
Pássaro bonbon
Bruna Beber
03.04.13
Há o que não importa tanto e o que importa muito. Fato triste é que nos vemos pouco. E o feliz é que nossos poemas estão sempre conversando por aí. Uma hora tomando café dentro de uma antologia, noutra pegando sol numa revista alternativa. Já até marcharam juntos, feito esse dia da invasão do Arpex. O que será que a sua placa cochichou pra minha? Será que o soldado que a carregava ouviu a conversa?
Bruna querida,
Chacal
27.03.13
Entrei por trás do palco e vi uma morena-colosso esperando na coxia o show começar. Nós nos entreolhamos. Até que você riu e disse: "não está me reconhecendo?". Não estava. Você dera um mortal e pulara o muro que separa a adolescência de uma mulher adúltera. E você ria. E eu, sem graça, falei "Bruna!?" e fui meio tonto procurar o meu lugar.
Muito prazer, Bruna
Bruna Beber
20.03.13
Nunca vou esquecer da primeira vez que li o seu nome escrito: "NOSSO AMOR PURO/PULOU O MURO (Chacal)". Depois disso não consegui achar mais nada seu. Te esqueci. Mas sei que você está bem, Chacal.
As bonitas que me desculpem
Joaquim Ferreira dos Santos
21.02.13
Prezado Xico, eu não queria que a nossa correspondência acabasse sem que eu desse esse grito de carnaval tardio. Sei que professas da mesma fé e falta de preconceito. Jambo é jambo, preta é preta, mas a feiosa também faz seu carnaval. Você precisa saber do devotamento à causa de que é capaz a mulher feia no seu esforço sublime para ser entronizada no reino das musas inesquecíveis.
Para um xodó no Recife, entreguei o meu coração vira-lata
Xico Sá
14.02.13
Com o cão sem plumas ainda a lamber a ressaca, aqui da margem esquerda do Capibaribe, sigo o conselho do Paulinho da Viola, esse professor de educação sentimental e bons modos: fecho a ferida, estanco o sangue e sepulto bem longe o que restou da camisa colorida que cobria a minha dor, demorô, já era, evoé, meu camarada, se Baco é por nós, quem será da turma do contra?!
Foto: Geyson Magno/UOL
Grêmio Recreativo Desiludidos do Amor
Joaquim Ferreira dos Santos
07.02.13
É isso, grande Xico. Desculpe se hoje prefiro a pândega e fujo do nosso tema. Cartas de amor são ridículas, todos sabemos e curtimos. Em tempos de carnaval, elas soariam imorais.
O amor acaba, mesmo quando nem começa
Xico Sá
31.01.13
Falar em desespero, Joaquim, não sei mesmo amar e muito menos sofrer em silêncio. Sofro publicamente, duas ou três coisas que aprendi com Lupicínio e o cinema americano. Sou triste e espalhafatoso, como o velho compositor baiano já dizia.
O conhecimento dos corpos sem GPS
Joaquim Ferreira dos Santos
24.01.13
De nada me queixo, Xico, mas não por acaso há uma meia dúzia de meses troquei de porta. Comprei uma dessas com fechadura de senha. Coloquei no segredo o nome de uma mulher só e disse o código só pra ela. Temos ido bem nesse pacto. É o nosso Rosebud. Essa mulher acabou de sair daqui e, pelo jeito que bateu a porta, acho que voltará muitas outras vezes e, se Deus quiser, me fará o pão doce em que é mestra.
Uma gostosa, bem sabes, Joaquim
Xico Sá
17.01.13
Tem início neste post uma conversa entre os escritores e cronistas Xico Sá e Joaquim Ferreira dos Santos, que trocarão correspondências no blog. Xico Sá, melancólico, vaga pela cinzenta São Paulo, rememorando a última mulher que disse adeus e bateu a porta.