No Dia Internacional da Mulher, o Instituto Moreira Salles apresenta um painel de mulheres retratadas no século XX por grandes fotógrafos e fotógrafas. São personagens anônimas, com exceção do autorretrato de Hildegard Rosenthal. As imagens selecionadas, que integram o acervo do IMS, vão de 1910 a 1990, mostrando muito do Brasil do século passado (e ainda deste): a vida em casa, no trabalho, na escola, na arte, na festa popular, na pobreza indesculpável.
Ao final do conjunto de 23 fotos, há retratos de seis fotógrafas cujos acervos estão no IMS.
Sete chaves
Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas como um
marechal do ar fazendo alegoria. Estou tocada pelo
fogo. Mais um roman à clé?
Eu nem respondo. Não sou dama nem mulher
moderna.
Nem te conheço.
Então:
É daqui que eu tiro versos, desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda, seus três
monumentos pátrios, e passa o ponto e as luvas
(Ana Cristina Cesar)
Creio que a mulher conquistou seu espaço em todas as áreas. Mas sem exageros – não gosto quando a mulher endurece o coração – entendo que ela está conseguindo um equilíbrio, sem fanatismos, sem radicalismos. Acho que o movimento feminista começou com muita sede ao pote, mas agora há um amadurecimento e o futuro da mulher é ao lado do homem.
Se a mulher é escrava, o homem também o é.
(Lygia Fagundes Telles, “Encontro com Lygia Fagundes Telles”, Caderno Viver, Jornal Correio Popular, 28/08/88)
Até que um dia em mim descobriram uma mocinha, abaixaram meu vestido, fizeram-me usar novas peças de roupa e consideraram-me quase pronta. Aceitei a descoberta e suas consequências sem grande alvoroço, do mesmo modo distraído como estudava, passeava, lia e vivia.
(Clarice Lispector, no conto “Obsessão”, 1941, p. 86)
O destino de uma mulher é ser mulher.
(Clarice Lispector, A hora da estrela, 1977)
Renunciando, quando jovem, a ser apenas a gatinha apetecível, quando adulta a simples reprodutora da espécie; quando velha, a relíquia encostada, boa apenas para criar netos e pintos, a mulher se sente no direito de experimentar as infinitas opções que vê à sua frente. Aceitando o desafio de uma sociedade cada vez mais competitiva e exigente, ela quer a sua cota nas tarefas, nas tentativas e nas soluções.
(Rachel de Queiroz, “O Dia da Mulher”, Jornal Última hora, 19.03.84)
Madalena Schwartz | Festa de Iemanjá, c. 1985
Noite carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo.
(Ana Cristina Cesar)