
Os mortos-vivos
Bernardo Carvalho
17.06.14
A arte contemporânea reitera o que o espectador já sabe ou já viu, e passa a ser uma arte da explicação e do reconhecimento, escreve Bernardo Carvalho. O espectador a entende e a acha original na medida em que a reconhece como uma ilustração mais ou menos engenhosa dos discursos que circulam no mundo. A pintura figurativa de Michaël Borremans, ao contrário, não diz, não ilustra nem explica nada. É o mundo que morre e renasce com ela.

Bonde 51
Bernardo Carvalho
23.01.12
Vim parar em Bruxelas com uma trupe de teatro. Estão fazendo ações na rua. Eu os acompanho. É uma espécie de pesadelo. Fico sabendo que vão se dividir em três grupos: enquanto uma atriz oferece café e bolachas aos passageiros do bonde 51, que corta a cidade de norte a sul, duas outras se postam no meio do corredor de outro bonde da mesma linha, inamovíveis aos pedidos dos passageiros que querem passar, e um casal de atores se divide entre o bonde e as paradas, ambos enrolados, como múmias mal embalsamadas.