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Trabalho de luto
Carla Rodrigues
31.10.18
Quando, em "Luto e melancolia", Freud deixa em aberto a medida do tempo necessário para superar o luto, esse talvez seja o melhor antídoto contra um dos maiores clichês: “a vida continua”, como se uma grande perda devesse e pudesse ser encarada com grande naturalidade.
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Luto e barbárie
Carla Rodrigues
03.02.17
Somos um país sem tradição de luto público, o que de certa forma ajuda a explicar tanto descaso por determinadas vidas em detrimento de outras. Nada mais apropriado para refletir sobre as reações à morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia da Silva.
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Quem conta a guerra são as mulheres
Carla Rodrigues
26.07.16
Para fazer o luto é preciso falar do luto, o que no caso dos mortos pela polícia, como no caso dos jovens de Costa Barros, implica também denunciar a violência do Estado. Entre os anos 2001 e 2011, o Rio de Janeiro registrou cerca de dez mil mortes em confronto com a polícia fluminense, conforme levantamento da OAB/RJ, muito bem nomeado de “Desaparecidos da democracia”. Sabemos que na Argentina são as Mães da Praça de Maio as mulheres que contam a guerra das ditaduras militares contra seus filhos. Sabemos que no Brasil foram as mulheres que lutaram pela Lei da Anistia, a fim de trazer de volta ao país seus maridos e filhos.
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O tempo do luto é outro
Carla Rodrigues
27.01.16
Falar sobre o luto será sempre também falar sobre a vida que fica, continua, sobrevive, permanece. Se, como me disse um médico e amigo, é preciso passar pelo luto, se é uma experiência inevitável, então é também inevitável aprender a falar sobre ele – assim como precisamos aprender a falar sobre a morte –, mas para isso me parece que devemos também falar sobre o tempo.
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Enlutar-se, fazer luta do luto
Carla Rodrigues
16.11.15
Somos um país sem nenhuma tradição de luto público ou político. As bandeiras não descem a meio pau quando dezenas de vidas são perdidas em Minas Gerais. Homenageamos nossos mortos à moda mais provinciana, falando bem de quem morreu como se fosse pecado dizer a verdade sobre eles. É tão triste a nossa incapacidade de reconhecer vidas perdidas dignas de serem lamentadas que podemos acabar metidos em debates estéreis como o que invadiu as redes sociais depois dos atentados em Paris. Estabeleceu-se uma disputa entre quais mortes teriam mais valor e quais manifestações de luto seriam mais legítimas. Falta enlutar publicamente os mortos de Mariana porque falta luto público para todos os nossos mortos.
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Sobre aquilo que não sabemos falar
Carla Rodrigues
03.09.14
Embora o noticiário esteja nos colocando diariamente diante do luto, seja com as mortes históricas, como a do candidato Eduardo Campos, ou com crimes bárbaros, a morte permanece no campo do indizível, mantendo sua ligação com o mistério, a incerteza, o medo e a angústia.