Para compreender o riso
Camila von Holdefer
05.12.16
Se a função social do humor na intimidade responde às iniciativas e às necessidades de quem está inserido naquela relação, na esfera pública tudo é bem diferente. Excluir as mulheres do jogo, que não podem tomar para si a iniciativa de fazer graça e de discutir o cômico, é uma forma de tornar o humor um privilégio de alguns. Pior ainda é perturbar um coletivo de milhões com a tentativa de puxar o riso quando há emoção e há choro. O humor é humano e é social.
Obscuros de estimação
Daniel Pellizzari
03.10.16
Escrever é uma coisa, ser lido é outra. Alguns escritores dão o melhor de si, produzem uma obra consistente, e quase ninguém percebe. Outros autores fazem um sucesso estrondoso enquanto vivem e acabam esquecidos pouco depois de morrer, por motivos muitas vezes insondáveis. Se incluirmos as notas de rodapé e as anotações nas margens das páginas, a história da literatura é formada em sua maior parte por escritores que ninguém lê, ou que ninguém jamais leu, ou que de repente pararam de ser lidos. As manhas e humores da peneira do cânone, esta quimera, escapam a qualquer tentativa de delimitação. E mesmo o conceito de obscuro varia bastante: o desconhecido de um país pode ser a estrela de outro, e há quem fique realmente embasbacado ao saber que o autor X, que ele tanto aprecia, é um perfeito estranho para quase todas as outras pessoas.
A impossibilidade de se falar sobre Auschwitz
Bruno Mattos
22.07.13
"Auschwitz, para a minha surpresa, abrigava a mesma rotina de um ponto turístico qualquer, como uma igreja antiga, um palácio luxuoso ou um museu. Quais seriam as implicações disso?", questiona Bruno Mattos neste texto que recorre a obras de Primo Levi, Michel Laub e Imre Kerstész para refletir sobre a impossibilidade de se transmitir a realidade dos campos de extermínio nazistas.