José Geraldo Couto

Brasília, terra em transe

José Geraldo Couto

23.09.16

O festival de Brasília sempre foi o mais quente do cinema brasileiro, e nesta 49ª edição chega fervendo, tanto pela contundência da seleção de filmes como pelas conturbadas circunstâncias políticas que o cercam por todos os lados. Se Cinema novo, de Eryk Rocha, dá a ver um desejo contagiante de cinema como força de transformação humana e social, a exibição do documentário Mártires, de Vincent Carelli, mostrou alguns limites e paradoxos desse desejo.

Vaia ecumênica

Bernardo Carvalho

14.09.16

A vaia a Temer na abertura dos Jogos Paraolímpicos ganhou assim um sentido maior, ético, a favor da democracia, para além de ideologias e partidos. Foi um protesto contra aproveitadores e impostores, diante do espetáculo incontestável de pessoas decididas a vencer por mérito próprio e a lutar contra os limites e preconceitos que as impedem de gozar dos mesmos direitos, da mesma visibilidade e do mesmo respeito garantido, em princípio, ao resto da sociedade.

Videogame do dinheiro

José Geraldo Couto

03.06.16

Por algum motivo, ou por todos, a especulação financeira – com os desastres sociais decorrentes – tornou-se tema frequente no cinema atual. Depois de O lobo de Wall Street e A grande aposta, agora é a vez de Jogo do dinheiro, com George Clooney e Julia Roberts. Como diretora, Jodie Foster demonstra grande segurança na orquestração dos diversos pontos de vista e no controle do ritmo. Trabalha dentro da tradição e das regras de gênero, mas atualizando-as e renovando-as com a dinâmica de seu (nosso) tempo. O resultado é um dos grandes filmes americanos do ano até agora.

Boal e o “milagre brasileiro”

Equipe IMS

31.05.16

O Brasil não era politicamente menos dramático que hoje naquele 25/4/84 em que Fernanda Montenegro escreveu ao amigo Augusto Boal no exílio. Entre euforia com a expectativa da votação e decepção com a derrota da emenda das Diretas Já no Congresso, a carta termina com a perplexidade atemporal de todo brasileiro: “Não sabemos o que vai acontecer.” Nunca sabemos. Trinta e dois anos após a agonia daquela noite sem final feliz, a atriz leu cópia de sua carta original em vídeo produzido para a exposição Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio.

O mundo se divide…

Carla Rodrigues

18.05.16

O mundo se divide entre aqueles que acreditam que o mundo se divide em duas partes e os que acreditam que tudo é muito mais complicado do que isso. Esteja de que lado você estiver, é impossível ignorar o problema da representação  na não representatividade do ministério do governo interino. Um regime democrático depende da representação de infinitas singularidades, impossíveis de estar contidas em qualquer estrutura representativa, mas possíveis de não serem totalmente ignoradas como se não existissem.

No vestiário

Bernardo Carvalho

27.04.16

É um lugar-comum que, na falta de argumentos, um dos lados da discussão termine citando Hitler e o nazismo como exemplos do mal absoluto e indiscutível. Costuma ser uma saída fácil e burra, e uma comparação em geral improcedente e irresponsável. Bolsonaro não é Hitler nem nazista, claro, mas há lições da história que não deveriam ser esquecidas. Não se faz pacto com o fascismo. Por motivo nenhum. Não se condescende com o fascismo nem por piada.

Contradições do aborto como crime contra a vida

Carla Rodrigues

11.11.14

A criminalização do aborto no Brasil é um desses fenômenos de múltiplas injunções, capaz de reunir preconceitos históricos, dogmas religiosos do valor absoluto da vida, a desigualdade no acesso à saúde, a hierarquia social de gênero e uma poderosa apropriação do Estado pela Igreja Católica.

Rio, cidade ausente, cidade em chamas

José Geraldo Couto

28.03.14

José Geraldo Couto comenta a animação Rio 2, de Carlos Saldanha, e contrapõe o filme a Rio em chamas, longa-metragem coletivo produzido sob coordenação de Daniel Caetano, e à conturbada situação atual do Rio de Janeiro e do Brasil.

George Clooney: política é o fim?

José Geraldo Couto

24.12.11

Para Hollywood, não é de hoje que a política é o fim. Não me refiro aos anos negros do marcarthismo, nem aos astros que viraram políticos de direita, como Ronald Reagan e Arnold Schwarzenegger, mas aos filmes propriamente ditos. No cinema americano, a política é um terreno sujo onde os maus entram para se dar bem e os bons se dão sempre mal, enredados numa teia infernal de compromissos, concessões, meias-verdades, intrigas e traições.

Labaredas da carne

Arthur Dapieve

12.12.11

Fiquei muito impressionado com a Bárbara Evans, filha da Monique, nas páginas da Playboy. (...)Não sei se você se lembra, mas no falecido site NoMínimo, eu tive durante doze meses uma coluna intitulada "A Playboy do Dapieve". (...) Anunciava qual era a entrevista, destacava uma ou duas matérias e analisava, com extrema frieza técnica, claro, a churrascaria rodízio que, afinal, é o que nos faz comprar a Playboy. A Bárbara Evans quase me fez bancar uma edição extraordinária e temporã daquela coluna. Sinto, contudo, que as palavras me faltariam, e o texto se resumiria a 735 "arf".