Resquícios de civilização
Paulo Raviere
04.09.18
Mesmo nas civilizações supostamente mais desenvolvidas, a barbárie está sempre à espreita. Dos filósofos humanistas aos antropólogos, dos relatos dos exploradores aos romances distópicos, frequentemente somos lembrados de quão próximos estão esses extremos.
A roda da fortuna
José Geraldo Couto
02.01.18
Há quem encare um novo filme de Woody Allen como uma espécie de evento anual inevitável, mais ou menos como a corrida de São Silvestre ou o especial de fim de ano de Roberto Carlos. Pode até ser. Mas, em contraste com a previsibilidade dos outros exemplos citados, cada novo trabalho do diretor nova-iorquino traz sempre alguma coisa a ser descoberta, algum matiz inexplorado anteriormente, uma maneira diferente de abordar os mesmos velhos temas. Como todo artista que encontrou há tempos a sua voz, ou a sua caligrafia, Allen é sempre igual a si mesmo, e sempre diferente.
Estado de graça
José Geraldo Couto
26.08.16
O que há de novo em Café society, filme mais recente de Woody Allen? A rigor, talvez nada. Mas, mais do que suma, talvez uma palavra melhor seja depuração. O cineasta parece ter podado as arestas de ansiedade, a incontinência verbal que às vezes fazia as palavras darem a impressão de não caber na imagem e no ritmo de seus filmes. Aqui tudo flui com uma segurança e uma elegância que alguns grandes artistas encontram em suas obras de maturidade.
Raskolnikov vai à universidade
José Geraldo Couto
04.09.15
Matar alguém pode ser justificável em certas circunstâncias? Sempre que se quer, modernamente, discutir a moralidade do homicídio, o fantasma de Raskolnikov volta a rondar. O projeto estético de Woody Allen, na vertente expressa em seu novo filme, Homem irracional, parece ser a ambição, obviamente inalcançável, de conciliar a densidade de Dostoiévski com a leveza (enganosa, claro) de Tchekov.
A desconstrução na e da política
Carla Rodrigues
17.09.14
Cerca de 50 anos após Jacques Derrida definir o conceito de "desconstrução", o termo foi vulgarizado nos discursos dos marqueteiros das campanhas presidenciais, que fingem ser possível traduzir a voz das ruas – pretensão desautorizada pelas ruas, que questionam a própria ideia de representação.
De Woody Allen a Francisgleydisson
José Geraldo Couto
21.11.13
José Geraldo Couto comenta duas estreias recentes: Blue Jasmine, o novo filme de Woody Allen, em que Cate Blanchett se destaca em um "magnífico trabalho conjunto de roteiro, direção e atuação", e a comédia cearense Cine Holliúdy, de Halder Gomes, um filme "assumidamente primitivo e visceralmente popular, na contramão do cinemão padrão Globo que impera no nosso circuito exibidor viciado e elitizado".
A dívida com os clássicos
José Geraldo Couto
07.07.11
Tenho muitos amigos que torcem o nariz para o Woody Allen, acusando-o de pseudointelectualismo ou mesmo de anti-intelectualismo. Penso diferente. A meu ver, ele brinca, por um lado, com o pedantismo acadêmico, e por outro com a superficialidade intelectual de nossa época, mas ao mesmo tempo sabendo que trabalha com um meio de expressão também ligeiro e superficial, que é o cinema narrativo americano.