A tricoteira paulista

Miscelânea

08.05.12

Algumas viram ao vivo. Foram poucas, comparadas às que viram no Facebook. No meio de abril, a artista plástica Ana Teixeira montou sua banca na Avenida Paulista e convidou quem passasse: “Escuto histórias de amor”.

Quem passou e não resistiu, parou e contou. A repercussão na internet foi tanta que, dias depois, a própria Ana exclamou: “?3132 compartilhamentos de minha foto em 3 dias. Quantas pessoas será que viram cada um destes compartilhamentos? Putz! É gente à beça, não é não?”

A exclamação, apropriadamente, foi em seu perfil no Facebook.

Enquanto as pessoas contavam seus dramas e delírios amorosos, ela tricotava. Por quê? Perguntamos a ela.

Por que tricô? Por que histórias de amor?

Foquei meu trabalho nos últimos 13 anos em ações reconhecidas por alguns teóricos como “arte relacional”, ou seja, uma arte que toma como horizonte as interações humanas e seu contexto social, mais do que a afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado.  A maioria dessas ações foi ambientada na rua, em interação com um público bastante diversificado, composto tanto por frequentadores habituais de museus e galerias, quanto por transeuntes não habituados à convivência com obras de arte de qualquer espécie. “Escuto Histórias de Amor” é mais uma das ações que realizei em ruas. Gosto da ideia de criar pequenos curtos-circuitos na realidade. É isso que tento fazer.
Para cada ação penso nos instrumentos necessários: Banca de camelô? Carrinho?  Neste caso optei por ter duas cadeiras e por fazer algo enquanto esperava, silenciosamente, por transeuntes que viessem me contar uma história de amor. Pensei em Penélope esperando Ulisses.
Escolhi o tricô.

E o que você vai fazer com a peça que resultou da performance?

Ela poderá ser exibida junto às cadeiras e à vídeo-instalação com os 9 filmes dos 9 países onde escutei histórias de amor.

Você já fez ações como essa em outros lugares do mundo. Como elas foram diferentes da feita aqui?

A reação das pessoas é muito semelhante em todos os lugares. Sempr e há os que passam e não olham; os que passam e, visivelmente, estranham; os que param e perguntam o que é; os que aderem e sentam-se para contar suas histórias.

Como as pessoas reagiram em São Paulo? Alguma história merece destaque?

Em São Paulo não foi diferente. As histórias são sempre interessantes, mas não as divulgo. Elas são ouvidas apenas. Todos os meus trabalhos são gerados por um longo tempo antes de acontecer. Fazer as ações nas ruas é sempre uma experiência forte. E é sempre diferente. Posso repetir a mesma ação dezenas de vezes e ela nunca é igual.

* Na imagem que ilustra o post: a artista plástica Ana Teixeira com seu projeto “Escuto histórias de amor” na Alemanha.

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