Araújo Porto-Alegre: singular & plural

Por dentro do acervo

17.02.14

O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abrigará de 19 de fevereiro a 13 de abril a exposiçãoAraújo Porto-Alegre: singular & plural, com trabalhos de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), que leva ao público desenhos e documentos que pertenceram ao autor e que hoje integram o acervo do IMS. A maioria das obras, com datações variadas, abrange o período em que Porto-Alegre esteve na Europa pela primeira vez (1831-1837). A curadoria é de Julia Kovensky e Leticia Squeff, também autoras deste texto de apresentação.

Sem título, c. 1836-1837. Aquarela sobre papel.

Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) é uma das figuras mais desconcertantes da história da cultura e das artes no Brasil: muito citado, é também pouquíssimo conhecido. Entre suas diversas atividades, atuou como arquiteto; fez trabalhos de cenografia e decoração para teatros e para festas da monarquia; é considerado autor das primeiras caricaturas realizadas no país; foi idealizador da estátua equestre de d. Pedro I, no Rio de Janeiro; escreveu algumas novelas, muitas peças para teatro e diversos poemas; e ocupou cargos de poder em instituições de cultura importantes da época, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), para a qual concebeu um amplo projeto de reformulação pedagógica, com enormes desdobramentos na arte brasileira da segunda metade do século XIX.

Esta exposição ilumina vários aspectos das atividades deste artista multitalentoso, principalmente no que diz respeito à sua produção gráfica: seus desenhos, suas pinturas e também as várias revistas que editou. As obras aqui apresentadas pertencem a diferentes instituições públicas e privadas do país, e muitas estão sendo apresentadas ao público pela primeira vez.

Floresta com cachoeira, c. 1850-1860. Nanquim e guache branco sobre papel

Os desenhos de Porto-Alegre trazem algumas surpresas, não apenas pela diversidade de temas e gêneros, como também pela qualidade técnica que alcançam em mais de um momento. Um dos destaques da exposição é sua obra como pintor de paisagens, uma novidade, já que ele sempre é lembrado como professor de pintura histórica na Aiba. Mostramos aqui sua preocupação com a representação da floresta brasileira – tema que o aproximou dos artistas viajantes com os quais conviveu no Rio de Janeiro.

Além de enfocar a atividade artística de Araújo Porto-Alegre, esta exposição pretende mostrar que ele é figura crucial para a compreensão da arte brasileira do século XIX e de muito do que aconteceu depois, nas ideias, nos valores, nas demandas de artistas e pensadores. Pode-se dizer, sobretudo, que Porto-Alegre é um dos que iniciam o difícil caminho do intelectual no Brasil, colocando como tarefa para si não apenas promover artistas e novos modos de criação, mas também ser crítico, historiador e articulador de instituições de cultura. É essa vocação formadora do intelectual brasileiro que Araújo Porto-Alegre parece ter vislumbrado e assumido com todas as forças, apesar do rarefeito universo cultural do Império.

Sem título, c. 1836-1837. Grafite, tinta ferrogálica e aquarela sobre papel.

* Julia Kovensky é coordenadora de iconografia do IMS.

* Leticia Squeff é professora de História da Arte na UNIFESP.

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