José Geraldo Couto

Vida louca, morte besta

José Geraldo Couto

04.11.16

Curumim, de Marcos Prado, é um registro impressionante da autodestruição de um homem, Marco Archer Cardoso Moreira, fuzilado em 2015 por tráfico de drogas na Indonésia depois de onze anos no “corredor da morte”. Em 2012, quando ainda fazia os últimos apelos na esperança de anular ou comutar a sentença, Curumim resolveu documentar seu cotidiano numa prisão de segurança máxima em que dividia a cela com terroristas da Al Qaeda e outros traficantes. Mandava os vídeos pela internet ao diretor, que teve também acesso a um vasto material de arquivo da família e de amigos do personagem.

Trigo e joio na Mostra

José Geraldo Couto

28.10.16

Na reta final da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cabe separar o trigo do joio para não perder tempo nem oportunidades. Os comentários a seguir não são críticas, mas impressões provisórias e precárias. Voltaremos oportunamente e com mais detença a algumas dessas obras.

Paterson, Pitanga e poéticas

José Geraldo Couto

24.10.16

No oceano de filmes da Mostra de São Paulo, muita gente escolhe o que vai ver com base nas sinopses divulgadas na imprensa ou no catálogo da própria mostra. Nesse contexto uma obra como Paterson, de Jim Jarmusch, tende a ficar em segundo plano, mas é uma pequena joia escondida em meio ao brilho falso de bijuterias mais vistosas. Igualmente revigorante, mas por motivos quase opostos, é Pitanga, de Beto Brant e Camila Pitanga. Não se trata propriamente de um documentário sobre, mas sim com Antonio Pitanga. 

40ª Mostra de Cinema de São Paulo

A Mostra e os sonhos de Bellocchio

José Geraldo Couto

21.10.16

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo deste ano, a quadragésima, pode não estar tão recheada de novidades fortes como em anos anteriores, mas começou muito bem. Belos sonhos, novo filme de Marco Bellocchio, não apenas confirma a esplêndida forma que o cineasta italiano reencontrou na maturidade como também amarra várias pontas de sua inquieta filmografia.

Política com olhar caloroso

José Geraldo Couto

14.10.16

O que distingue a abordagem política do cineasta polonês Andrzej Wajda, que morreu aos 90 anos no último dia 9, é um olhar caloroso dirigido aos indivíduos, com suas fraquezas e contradições, e um olhar desconfiado diante das grandes ideias, promessas e sistemas. Por isso seu cinema segue mais vivo do que nunca.

A aventura mora ao lado

José Geraldo Couto

07.10.16

José Geraldo Couto compartilha suas apostas para o Festival do Rio 2016 e resenha o filme argentino No fim do túnel, um policial intrincado e violento que transita entre um realismo cru e uma atmosfera por vezes onírica (de pesadelo, no caso) com uma segurança narrativa admirável.

Apologia do esquisito

José Geraldo Couto

30.09.16

Não li a trilogia O lar da senhorita Peregrine para crianças peculiares, de Ransom Riggs (publicada no Brasil pela editora Intrínseca), mas não é difícil perceber por que Tim Burton se interessou pela história e a transformou em seu novo filme. Crianças peculiares habitam desde sempre a filmografia do cineasta e o tipo de fantasia presente no livro é o mesmo do seu universo, em que se entrelaçam o sinistro, o cômico e o maravilhoso.

Brasília, terra em transe

José Geraldo Couto

23.09.16

O festival de Brasília sempre foi o mais quente do cinema brasileiro, e nesta 49ª edição chega fervendo, tanto pela contundência da seleção de filmes como pelas conturbadas circunstâncias políticas que o cercam por todos os lados. Se Cinema novo, de Eryk Rocha, dá a ver um desejo contagiante de cinema como força de transformação humana e social, a exibição do documentário Mártires, de Vincent Carelli, mostrou alguns limites e paradoxos desse desejo.

Suspense ao sul

José Geraldo Couto

16.09.16

Por um feliz acaso, estão chegando aos cinemas praticamente ao mesmo tempo dois filmes de suspense de cineastas brasileiros da nova geração, Mate-me por favor O silêncio do céu. Por vias diferentes, eles arejam e revitalizam esse gênero tão pouco cultivado entre nós. A boa notícia é que ambos são ótimos.  

Metafísica da luz

José Geraldo Couto

09.09.16

Muito se falou sobre o misticismo de Carl T. Dreyer, seu depurado cristianismo, sua elevada espiritualidade. O interessante é investigar como essas inquietações íntimas se traduzem em cinema. Em grande, imenso cinema. Perfeitos em sua composição, em seu equilíbrio estético interno, em seu ritmo, em seu controle absoluto da luz, dos enquadramentos e dos movimentos de câmera, seus filmes, para o crítico André Bazin, estão entre as “raras obras cinematográficas que sustentam a comparação com as melhores produções da pintura, da música ou da poesia”.