José Geraldo Couto

Brasília, labirinto sem saída?

José Geraldo Couto

04.12.15

Numa semana trepidante na política, destaco um filme tão oportuno quanto incômodo: O fim e os meios, de Murilo Salles, obra de imagens fortes e originais que não deixa espaço para o maniqueísmo ou a catarse. Outra estreia importante da semana é o delicado Califórnia, de Marina Person, que traz evidentes traços autobiográficos.

Capital da solidão

José Geraldo Couto

27.11.15

Ausência é um filme sobre momentos cruciais na formação afetiva, psicológica e moral de um adolescente paulistano de classe média baixa. É também uma pungente reflexão sobre a perda, a solidão, o desamor, dotada de um lirismo urbano quase documental. A singular estrutura narrativa, que transmite uma aparência de naturalidade, de espontaneidade, de captação direta do real, na verdade é uma construção rigorosa, em que cada cena e cada diálogo servem à expressão de seu motivo central: o desamparo.

Chatô, réu do Brasil

José Geraldo Couto

20.11.15

Quase vinte anos depois de filmado, entra finalmente em cartaz Chatô, o rei do Brasil, longa-metragem de estreia de Guilherme Fontes. Não cabe aqui falar sobre os percalços e descaminhos da produção, mas apenas observar o resultado, isto é, o filme que agora chega às telas, e cotejá-lo um pouco com o cinema que se tem feito hoje no Brasil, sobretudo as cinebiografias e produções de enfoque histórico.

Mundo fora dos eixos

José Geraldo Couto

13.11.15

Se existe um filme impossível de classificar, é o tríptico As mil e uma noites, do português Miguel Gomes, com sua mistura desenvolta e descarada de gêneros, assuntos e estilos. A estrutura do clássico árabe que dá nome ao filme – Xerazade desfiando a cada noite relatos fascinantes para o sultão de modo a adiar sua execução – serve aqui de fio condutor para uma leitura muito pessoal da história recente do mundo, em especial de Portugal.

A tragédia de Elias e o corpo de Olivia

José Geraldo Couto

06.11.15

Há um limite intransponível para a eventual representação ficcional em O olmo e a gaivota: o corpo de Olivia. Acompanhamos o crescimento de sua barriga, as transformações de seu organismo, as alterações na sua pele. É um filme singular e extraordinário. A floresta que se move, por sua vez, adapta Shakespeare através de uma solução de compromisso, mantendo os dilemas humanos centrais da peça, mas envoltos em roupagem contemporânea

O sentido do humano

José Geraldo Couto

30.10.15

Na reta final da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além de alguns filmes obrigatórios - como O botão de pérola, Son of Saul, Desde allá Os campos voltarão - há inúmeros outros filmes que merecem ser vistos, além de de apostas sem erro como os clássicos restaurados pela Film Foundation comandada por Martin Scorsese, os filmes de José Mojica e de Rogério Sganzerla e brasileiros inéditos de Julio Bressane (Garoto), Ruy Guerra (Quase memória), Gabriel Mascaro (Boi neon), Maria Augusta Ramos (Futuro junho e Seca), Aly Muritiba (Para minha amada morta), Marina Person (Califórnia), e Petra Costa (Olmo e a gaivota), entre muitos outros.

Mostra de São Paulo: uma jornada pessoal

José Geraldo Couto

26.10.15

El abrazo de la serpiente, Para o outro lado, Memórias secretas, As mil e uma noites e outras indicações pescadas no mar de filmes da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O reality show de Hector Babenco

José Geraldo Couto

22.10.15

Meu amigo hindu cresce justamente quando se concentra no corpo do protagonista, em seu embate com a vida e a morte. É um pouco como se ali se chegasse ao grau zero da representação, da dramaturgia, da encenação: resta o corpo fibroso, esquelético, fragilizado, em sua luta para continuar vivo.

Godard, revolução permanente

José Geraldo Couto

16.10.15

Godard faz parte da rara estirpe de artistas que, em vez de se acomodar com o passar dos anos, radicaliza o discurso e afia os instrumentos. Às vésperas de completar 85 anos, continua inquieto, desconcertante e imprevisível. A retrospectiva que entrará em cartaz em São Paulo, Rio e Brasília atestará a coerência e a integridade por trás dessa metamorfose ambulante, dessa revolução permanente.

Crusoé moderno

José Geraldo Couto

09.10.15

Iluminista e antropocêntrico em sua essência, Perdido em Marte é uma celebração da ciência, de uma crença no poder ilimitado da inteligência humana para domar as forças naturais e colocá-las a seu favor. É, nesse sentido, o exato oposto do 2001 de Kubrick, eivado de dúvidas e angústias sobre a condição e os limites do homo sapiens.