Pena vai ter quem ficar
Paulo Roberto Pires
29.04.13
Na chuvosa noite paulistana de 9 de março de 2013, Paulo Vanzolini adentrou, de capa de chuva e chapéu, o bar em que estávamos. Passamos a noite conversando e ouvindo seus sambas. Se as fotos não comprovassem, pareceria que nada daquilo tinha acontecido. Pude olhar de perto um gigante.
Despachando minha biblioteca
Paulo Roberto Pires
26.03.13
É difícil acreditar, como os cybercretinos, que o horizonte virtual seja o terceiro segredo de Fátima do mundo editorial. Tão ruim ou pior só mesmo o saudosismo fetichista do papel, a conversa mole sobre a "magia" dos livros e o fascínio até pelo seu cheiro. É justamente porque gosto demasiado de livros que, se conseguir, quero ficar com os que considero realmente essenciais, por um motivo ou outro.
A arte de falar mal
Paulo Roberto Pires
07.11.12
Joseph Epstein não é uma cobra, é uma medusa. Em cada cabeça, uma sentença, peçonhenta, dirigida indistintamente a contemporâneos e antepassados, nomes consagrados e controversos. É uma estranha ideia de diversão essa de ler Joseph Epstein, de se sentir constrangido, pelo menos por um tempo, por suas próprias opiniões.
Os vivos e os mortos
Paulo Roberto Pires
01.11.12
Dia de Finados dá nisso: homenagear os mortos faz pensar nos vivos, em sua transitoriedade fatal. Santo Agostinho, que sabia das coisas e barbarizou antes de se converter, não dava muita bola para a "vida mortal". O negócio, escreveu ele, era a "morte vital", uma espécie de P.S. mais importante que a carta. Mas em matéria de transcendência, ainda fico com Otto Lara Resende (cristão e cético): morreu, babau.
Variações para piano despreparado
Paulo Roberto Pires
26.10.12
Com 15 minutos de atraso, um Keith Jarrett que parece minúsculo entra no palco do Teatro Municipal. Reluzente, o Steinway está no proscênio. A cortina vermelha permanecerá fechada. Depois de agradecer aos aplausos, ajeita o banco em frente ao teclado, como se buscasse um centro ideal.
O Jurado C da vez
Paulo Roberto Pires
24.10.12
O Jurado C é um dos personagens decisivos na vida intelectual brasileira. E não é de hoje. É um ser mítico, com muitas caras e um só objetivo: o alpinismo intelectual, a busca incessante de um atalho entre o anonimato e o brilhareco do pseudodebate intelectual.
Mo Yan, quem?!
Paulo Roberto Pires
11.10.12
Uma certa soberba da ignorância costuma exalar dos comentários, entre nós, sobre aqueles vencedores do Nobel de Literatura que escapam às listas dos eternos candidatos. Mo Yan, chinês que foi anunciado nesta quinta como premiado de 2012, é, por aqui, candidato forte ao epíteto de "desconhecido". Acha-se que o problema é da Academia Sueca, sem dúvida idiossincrática como qualquer júri literário. Mas bem que pode ser nosso.
O conforto dos estranhos – por Paulo Roberto Pires
Paulo Roberto Pires
09.10.12
Paulo Roberto Pires, na nova seção do blog do IMS dedicada a comentar exposições em cartaz no mundo, visita o Turbine Hall, gigantesca ante-sala do museu Tate Modern, onde conhece (e participa de) uma inusitada obra de arte de Tino Sehgal.
O Benny Goodman da gafieira
Paulo Roberto Pires
04.08.12
Ouvir Severino Araújo era como ouvir um Benny Goodman curtido em Underberg na Praça Tiradentes. Ouvir Severino Araújo era, aliás, impossível: dançava-se com Severino Araújo à frente da insuperável Orquestra Tabajara que ele comandou com brio de 1938 e, de forma honorária, até este 3 de agosto de 2012, quando morreu aos 95 anos.
O grande e o pequeno
Paulo Roberto Pires
03.07.12
Dentre os convidados da décima Flip, Jonathan Franzen é autor do maior livro de ficção: 608 páginas. Alejandro Zambra, do menor: 94 páginas. Liberdade traz, em seu título, grandiloquência. Bonsai, miniatura. Em literatura, tamanho é, sim, documento.