Colunistas

No vestiário

Bernardo Carvalho

27.04.16

É um lugar-comum que, na falta de argumentos, um dos lados da discussão termine citando Hitler e o nazismo como exemplos do mal absoluto e indiscutível. Costuma ser uma saída fácil e burra, e uma comparação em geral improcedente e irresponsável. Bolsonaro não é Hitler nem nazista, claro, mas há lições da história que não deveriam ser esquecidas. Não se faz pacto com o fascismo. Por motivo nenhum. Não se condescende com o fascismo nem por piada.

O que as palavras dizem das coisas

Carla Rodrigues

19.04.16

Para Pierre Dardot e Christian Laval, autores de A nova razão do mundo, o importante é mostrar como, no neoliberalismo, a concorrência, método capitalista por excelência, despreza qualquer regulação de trocas e destitui o Estado do papel de conter o mercado a partir de regras do direito público. A supremacia da gestão privada se expande das empresas para a vida e para a “arte neoliberal de governar os indivíduos”.

Janaína é uma bola

Bernardo Carvalho

13.04.16

A performance de Janaína Paschoal, a musa do impeachment, é consequência de uma sociedade midiática, de exposição absoluta, que desnorteia os indivíduos entre BBBs, Facebook e o mundo das celebridades. Ninguém vê, por exemplo, obscenidade alguma em a mulher de um juiz em princípio sério e idôneo, que faz um trabalho importante contra a corrupção no país, abrir uma página no Facebook com o título “Moro com ele” (trocadilho com o nome do marido), para agradecer o apoio e as centenas de milhares de mensagens de carinho da população. Se ninguém vê, não sou eu que vou explicar.

Mulheres, da planície ao planalto

Carla Rodrigues

05.04.16

Reivindicação dos direitos da mulher, da filósofa inglesa Mary Woolstonecraft, mostra como o pensamento sobre “a condição da mulher” foi historicamente classificado como desimportante. Escrito na Inglaterra do século XVIII, o livro dialoga com os problemas filosóficos e morais do Iluminismo, mas também pode ser lido à luz da misoginia contemporânea. Woolstonecraft discute com os grandes filósofos do seu tempo e discute questões que chegam até nós, herdeiros das Luzes e de uma certa narrativa moderna, digamos assim, vitoriosa, mas nem por isso menos questionável.

Defesa da literatura

Bernardo Carvalho

30.03.16

Um processo kafkiano está em curso na França, depois de o escritor Édouard Louis ter sido intimado por "atentar contra a vida privada e a presunção de inocência" do homem que o agrediu e o estuprou, sob a mira de um revólver, há três anos. Em seu segundo romance, "História da Violência" (ed. Seuil), publicado em janeiro com ampla repercussão de público e de crítica, o escritor de 23 anos narra seu encontro casual, na noite de Natal de 2012, com um homem de origem argelina, de cerca de 30 anos, que se apresenta como "Reda". Os dois vão ao apartamento do escritor, onde "Reda" o estrangula (por pouco não o mata) e o estupra, antes de desaparecer.

Amor e política em tempos difíceis

Carla Rodrigues

22.03.16

Em tempos de whatsapp, Facebook e Twitter, o vazamento de áudios de conversas telefônicas mobilizam não apenas pelo seu conteúdo, mas pelo poder da voz em transmitir aquilo que vai além do texto. Na velocidade de mensagens curtas e fragmentadas, a comunicação é mera ilusão tanto na política quanto no amor.

No lugar do outro

Bernardo Carvalho

16.03.16

O sacrifício é uma forma extrema de representação: alguém morre no lugar do outro; alguém assume o lugar do outro, para salvar o outro. Muitas vezes, o sacrifício toma a forma de um ritual, o que o aproxima do teatro. É o tema da peça (A)polônia, do polonês Kryzstof Warlikowski, que encerrou a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, MITsp, no domingo.

Novas razões para comemorar o Dia Internacional da Mulher

Carla Rodrigues

08.03.16

Há ainda um sentido em comemorar o Dia Internacional da Mulher? Hoje, no que talvez seja o auge da terceira onda feminista, a pergunta sobre a validade do Dia Internacional da Mulher não vem necessariamente do inimigo conservador – embora até possa vir também –, mas está instalada dentro daquilo que posso chamar, ecoando Judith Butler, de “problemas de gênero”. Até que ponto faz sentido, em um contexto de questionamento de classificações de gênero, a comemoração do Dia Internacional da Mulher, afirmação máxima da identidade feminina?

Negacionistas

Bernardo Carvalho

02.03.16

O negacionista costuma negar os fatos enquanto ainda pode contar com a ignorância a seu favor. Quando nega a existência das câmaras de gás nos campos de concentração, por exemplo, é porque conta com a sobrevivência do antissemitismo entre seus leitores e ouvintes. Ao contrário do louco, é um calculista. E quando não é apenas burro, é basicamente um covarde que só age enquanto vê alguma chance de manipular a opinião pública e de tirar algum proveito disso.

Desafios de pensar sobre as obrigações da maternidade

Carla Rodrigues

18.02.16

Poucas, muito poucas mães admitem – para si mesmas ou para a sociedade – as dificuldades que vivem. E as corajosas o suficiente para fazê-lo são linchadas, como aconteceu com a dona de casa Juliana Reis, cujo perfil no Facebook foi bloqueado depois de afirmar que “detestava ser mãe”.