A história da fotografia é indissociável da história da pintura. Desde os primeiros registros fotográficos, na primeira metade do século XIX, observa-se uma série de influências mútuas entre as duas formas de representação. Ao longo do século XX, as trocas se tornam cada vez mais complexas, não sendo possível, muitas vezes, determinar uma origem única para soluções formais engendradas por artistas que trabalham com essas técnicas.
Lugar nenhum, exposição de 56 obras que o Instituto Moreira Salles abre no Rio de Janeiro em 2 de março, apresenta as relações entre fotografia e pintura no cenário contemporâneo por meio da produção recente de oito artistas brasileiros: Ana Prata, Celina Yamauchi, Lina Kim, Luiza Baldan, Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Rubens Mano e Sofia Borges. Eles possuem percursos e referências distintas, mas seus trabalhos, quando postos lado a lado, sugerem um sentido comum.
A mostra tem curadoria do crítico de arte Lorenzo Mammì e da coordenadora de artes visuais do IMS, Heloísa Espada, e fica em cartaz até 2 de junho. Na abertura, haverá às 17h uma mesa-redonda com os curadores e com Sérgio Bruno Martins, crítico de arte e doutor em história da arte pela University College London. A retirada de senhas começa às 16h30.
Os três pintores que participam da exposição – Marina Rheingantz, Ana Prata e Rodrigo Andrade – partem de imagens fotográficas retiradas de livros, revistas, jornais, arquivos pessoais ou da internet. Mas, embora a fotografia seja para eles uma potente fonte de ideias, a técnica detona um processo criativo que visa a desafios próprios à pintura. Os fotógrafos, por sua vez, cada um ao seu modo, demonstram a mesma liberdade do pintor para interferir na cena registrada, seja modificando o lugar fisicamente, como faz Rubens Mano, seja por manipulações digitais, como fazem Lina Kim, Celina Yamauchi e, em alguns trabalhos, Sofia Borges.
Em comum, todos os artistas de Lugar nenhum evitam situações espetaculares e inusitadas. Suas obras mostram lugares quase sempre vazios e anônimos, espaços aparentemente esquecidos que evidenciam resquícios do passado no presente. Por meio de cenas a princípio banais, criam espaços de silêncio, pausa e estranhamento. Estão cientes de que a fotografia é um código do mundo, e não o mundo. Mas é justamente nos lugares em que os códigos são mais rarefeitos e em que o sentido parece suspenso que uma representação do mundo ainda parece possível.
Veja abaixo alguns dos trabalhos expostos:
Tiro, 2011. Ana Prata
Sem título, 2012. Celina Yamauchi
Sem título, 2003 – 2006. Lina Kim
Sem título, 2010. Luiza Baldan
Malha viária com piscina, 2010. Marina Rheingantz
Fachadas japonesas/Daido Moriyama, 2010. Rodrigo Andrade
entre, 2003. Rubens Mano
Ambas, parte 1, 2009. Sofia Borges