Autorretrato no alto de Carabaya (1928)
Martín Chambi (1891-1973), de origem camponesa, nasceu no povoado de Coaza, província de Puno, às margens do lago Titicaca, no Peru. Iniciou-se na fotografia ainda jovem, ao obter uma colocação como assistente de fotógrafo na Mineradora Santo Domingo, na cidade de Cambaya, para onde seus pais se mudaram impulsionados pelo ciclo do ouro na região.
Já em Arequipa, em 1908, teve como mestre Max T. Vargas, célebre fotógrafo local, com quem trabalhou até montar seu próprio estúdio em Sicuani, nove anos depois. Na ocasião, publica de forma pioneira no Peru seus primeiros cartões postais.
Ezequiel Arce e sua colheita de batatas (1934)
Também de origem indígena, Chambi se dedicou a registrar a população nativa do Peru, principalmente as etnias Quéchua e Aymará, com uma abordagem diferente da forma exótica comum à época. Registrou a humildade da vida andina sem desrespeitá-la, tornando seu trabalho reconhecido mundialmente tanto pelo caráter etnográfico quanto pelo aspecto artístico.
Primeiro a fotografar Machu Picchu, a cidade sagrada dos incas, descoberta em 1911, Chambi ficou também conhecido como fotojornalista, tendo trabalhado nos jornais locais de Cusco. Teve também fotos publicadas em outros países, como no jornal argentino La Nación e na revista National Geographic.
Vista parcial de Wiñay Wayna, Macchu Picchu (1941)
Em 1977, quatro anos após sua morte, os filhos, Victor e Julia Chambi, e o fotógrafo e antropólogo americano, Edward Ranney, catalogaram as 14 mil placas de vidro do fotógrafo. A pesquisa resultou em uma grande exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA), em 1979. A forte repercussão internacional levou essa mostra a circular por museus e universidades americanas, passando pelo Canadá e terminando na Photographer’s Gallery, de Londres.
Na década de 1980 foram organizadas importantes mostras sobre a obra de Chambi, como a de 1981, que passa por Zurique, Berlim, Madrid e Roterdã, e a de 1984, com curadoria de Juan Carlos Belón, apresentada em Veneza. Desde então várias exposições vêm sendo exibidas em diversos países, inclusive no Brasil, como no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, em 2010.
Festa de Carnaval (1926)
Atualmente os originais de Chambi encontram-se no Archivo Fotográfico Martín Chambi, em Cusco, instituição fundada e dirigida por seu neto Teo Allain Chambi, que prima pela preservação e difusão da obra do avô. Em suas apropriadas palavras, Martín Chambi é o primeiro fotógrafo de sangue indígena a retratar seu próprio povo com altivez e dignidade somadas a um altíssimo nível técnico, um olhar excepcional e um magistral domínio da luz.
As 88 imagens que agora podem ser vistas no site do IMS, fotografadas entre 1919 e 1948, são provenientes dessa fundação, e foram selecionadas e ampliadas a partir de seus negativos originais de vidro, nos anos 1980, por Teo Chambi.