Necessários e inviáveis

Por dentro do acervo

15.03.13

“15 poemas necessários” é o título que estampa a primeira página de uma caderneta marrom de Otto Lara Resende armazenada no acervo de literatura do IMS. Abaixo desse título se encontra um desenho feito à caneta de uma paisagem que qualquer brasileiro reconhece: a praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. No verso da capa, uma anotação diagonal revela o autor do desenho: Lúcio Cardoso, o escritor de Crônica da casa assassinada.

 

No texto introdutório, Otto Lara Resende (ou O.L.R., como ele mesmo se refere em terceira pessoa) explica que o desenho foi feito na rua Alberto de Campos, em Ipanema. Otto classifica os “15 poemas necessários” como um livro “inviável”, e por fim se define como um “não-poeta”.

E é abrindo o caderno que descobrimos que, de fato, não se tratam de poemas – não no sentido estrito de poesia, que define o poema como o texto em versos. Consta um dado sobre esse manuscrito no Dicionário Literário Brasileiro, de Raimundo Menezes: os “15 poemas necessários” seriam poemas em prosa, uma das primeiras tentativas do jornalista de produzir ficção. Alguns dos poemas foram publicados em Belo Horizonte e no Rio.

Desde a primeira linha fica claro que Otto usa o espaço poético-ficcional para a reflexão filosófica. O caderno começa da seguinte maneira: “Se não houvesse o tempo, todos seríamos loucos”.

O caderno é recheado de pensamentos sobre diversos temas: a passagem do tempo, a solidão, a escrita, Proust, Mallarmé, Poe, Dostoiévski… Às vezes, há um encadeamento entre os temas; em outros momentos, as reflexões surgem de forma esparsa em aforismos.

“Escrever é compor. A música interior das palavras e a sinfonia da obra literária. Há um tom para cada composição.

Proust é um exemplo de coincidência perfeita entre a criação (o tema) e a obra feita. A música da memória”.

Poemas necessários, pois são pensamentos que precisavam ser postos em palavras? Um livro inviável porque não seria editado? Dificilmente saberemos. Como afirma um dos últimos aforismos de Otto no caderno: “A obsessão da compreensão, um mito adolescente”.

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