Pensa bem, Tite

Pensa bem, Tite

O lugar de Luan

Esportes

09.05.18

Todo mundo tem lá suas manias, vai. Se é verdade que o Brasil tem 207 milhões de técnicos de futebol, há 207 milhões de manias latentes às vésperas da convocação da seleção para a Copa da Rússia, na próxima segunda-feira (14). A mania que conta, claro, é a do Tite. E, a meu ver, ele está exagerando. Oxalá desapegue dela a tempo.

Acho difícil entender a birra de Tite por Luan, o jovem, móvel e objetivo atacante do Grêmio. Depois de atuações fulgurantes nas Olimpíadas do Rio, nos dois últimos Brasileirões e nas últimas Libertadores da América, a atual e a passada, conquistada pelo seu time, o guri contabiliza duas convocações para a seleção comandada por Tite desde agosto de 2016. Taison tem seis. Diego Souza, quatro. Nos últimos amistosos, Anderson Talisca e Willian José foram chamados pela primeira vez. Luan ficou aqui.

Luan, à espera de uma vaga na lista

É preciso considerar que um técnico de futebol sabe de coisas que nós não sabemos. Luan pode ter se esquecido de dar um bom-dia a Tite na concentração. Luan pode roncar alto. Luan pode até ter algum problema físico, uma bomba-relógio ocultada da mídia e dos fãs. Ou alguém que seja nome certo na lista de Tite pode não gostar de Luan. Não, nada disso soa provável. O técnico parece é ter um esquema de jogo – bastante bom, diga-se, apesar das limitadas variações – já consolidado na cabeça.

Luan, então, não caberia nesse esquema. Inclusive porque, para mim, nunca ficou claro se ele é mesmo atacante ou se é meia, flutuando entre linhas de defesa adversárias. Com aquela bola toda, não precisamos dessas formalidades, precisamos? Se o ataque estiver fechado para a Copa – Neymar, Jesus, Firmino e Douglas Costa – por que não buscar vaga para Luan no meio? Quem parece mais apto a decidir uma partida difícil? Luan ou Giuliano (sete convocações de Tite até agora)? Luan ou Diego (quatro convocações)?

Talvez recordar não seja viver, como se canta, mas pode evitar morrer de novo de um mesmo mal. A crônica de nossas Copas do Mundo está cheia de jogadores injustamente esquecidos. Talvez Falcão, que praticava um futebol refinadíssimo no Internacional, não conseguisse impedir que a taça de 1978 ficasse na Argentina. Talvez Philippe Coutinho, que estava comendo a bola no Liverpool, não conseguisse impedir o 7 a 1 no Mineirão.

Luan, campeão pela seleção olímpica

Contudo, há um momento em especial no qual a presença de um ou dois bons jogadores poderia ter mudado o rumo, senão da Copa, de uma partida decisiva. Brasil e Holanda, quartas-de-final na África do Sul, em 2010. Lembra? Depois de atuações sofríveis, a seleção do técnico Dunga fazia ali o seu melhor jogo. Parecia poder marcar quando quisesse. Bem, se era assim, só quis uma única vez. No intervalo, 1 a 0 no placar. Gol de Robinho, aproveitando excelente lançamento em profundidade de Felipe Mello.

No segundo tempo, previsivelmente, a maré virou no balneário de Port Elizabeth. Sneijder assinalaria duas vezes, a primeira em lambança de Júlio César e Felipe Mello. Mas o cronômetro marcava apenas 22 minutos. Havia tempo para reverter a situação. Só que, sendo Felipe Mello quem é, Felipe Mello, deu um pisão num adversário caído, Robben, e foi expulso aos 28 minutos. Com dez em campo, o Brasil estava em apuros.

Dunga já fizera uma substituição. Depois da expulsão, precisando ao menos do empate, o técnico fez outra, perfunctória. Trocou de centroavante: Luís Fabiano por Nilmar. Não fez mais nada nos últimos 17 minutos, além dos acréscimos de praxe. Nem se deu ao trabalho de pôr uma última carta em campo. Deve ter olhado, olhado de verdade para o seu banco de reservas. Nenhum dos jogadores que convocara seria capaz de virar aquele jogo. Júlio Baptista? Grafite? Kléberson? Ramires? Josué? Não, né? Os jovens Neymar e Ganso, naquele ano campeões paulistas pelo Santos, assistiram à eliminação do Brasil pela TV. O caso ilustra para todo o sempre o que é uma convocação teimosa, malfeita.

Tite não é Dunga. Torço para que Luan esteja na sua derradeira lista. E, se não estiver, torço para que não nos faça falta na Rússia.

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