José Geraldo Couto

Escravidão sem fim

José Geraldo Couto

29.06.18

Dois filmes em cartaz, um de ficção (O nó do diabo) e um documentário (Auto de resistência), investigam com brio e vigor a infâmia histórica da escravidão no Brasil e seu legado de segregação e violência nos dias de hoje. São obras complementares, entre as quais se percebe uma incômoda continuidade.

O inferno é aqui

José Geraldo Couto

10.11.17

Passemos ao largo do fogo cerrado a que Vazante, de Daniela Thomas, foi submetido no último Festival de Brasília. Algumas acusações lançadas ali são tão descabidas que não mereceriam comentário. O problema é que as chagas da nossa formação como país são tão profundas que qualquer filme será insuficiente para aplacar as dores acumuladas ao longo dos séculos. Talvez algumas cobranças, por mais legítimas que sejam, só pudessem ser satisfeitas por uma obra programática, que mostrasse negros heroicos e virtuosos batendo-se contra o dragão da maldade do poder branco. Mas uma tal obra teria escassa eficácia política, esgotando-se na catarse, e valor estético nulo.

Um país malvado

José Geraldo Couto

14.04.17

“O Brasil é um país malvado”, disse o exibidor Adhemar de Oliveira durante um debate sobre “Aquarius” em São Paulo, há um ano. Dois novos filmes permitem entender – e comprovar – essa frase terrível: o documentário Martírio, de Vincent Carelli, e a ficção Joaquim, de Marcelo Gomes.

O diabo entre nós

José Geraldo Couto

29.07.16

Quando se fala em “aclimatar” gêneros consagrados às condições brasileiras, pensa-se logo em elementos de “cor local” (paisagem, humor paródico, signos da nossa cultura). Aqui entra uma das grandes sacadas dos realizadores de O diabo mora aqui. O que pode haver de mais profundamente brasileiro que a herança da escravidão, da opressão e dos desmandos de uma oligarquia impiedosa? E é isso o que essa trama de terror concentrada numa única noite e vivida por poucos personagens traz à tona com uma força desconcertante.

O nazismo entre nós

José Geraldo Couto

08.07.16

Nenhum filme havia contado até agora uma história tão horripilante e reveladora de nossas mazelas como a mostrada no documentário Menino 23, de Belisário Franca, sobre a presença nazista no Brasil. Através de pesquisa do historiador Sidney Aguilar Filho, o filme reconstitui um evento ocorrido em meados dos anos 1930, no interior de São Paulo.

Lima Barreto e a Missa Campal

Lima Barreto

17.05.15

A Lei Áurea, assinada em 1888 e garantindo o fim da escravidão no Brasil, foi celebrada com uma Missa Campal com a presença da Princesa Isabel. Recentemente, a Brasiliana Fotográfica analisou fotografia clássica do evento e descobriu a presença de Machado de Assis na imagem.

Machado não foi o único grande escritor a estar presente naquele dia. Lima Barreto também foi, com 7 anos. Em 1911, ele escreveu uma crônica sobre o momento histórico. O Blog do IMS republica o texto.

Doze anos de ênfase e redundância

José Geraldo Couto

28.02.14

Para José Geraldo Couto, 12 anos de escravidão, com sua "abordagem unívoca, inexorável", não se sai muito bem como cinema: "Uma encenação acadêmica, conduzida com ênfase e redundância, para não dizer com mão pesada, que sugere em alguns momentos uma versão primeiro-mundista das produções da Vera Cruz".

Emancipação

Lilia Schwarcz, Maria Helena Machado e Sergio Burgi

28.10.13

O MAC/USP, em parceria com o Instituto Moreira Salles, abriu em 28 de outubro a exposição Emancipação, inclusão e exclusão. Desafios do Passado e do Presente, com 74 fotografias pertencentes ao acervo do IMS e de autoria de Marc Ferrez, Victor Frond e George Leuzinger, entre outros. Com curadoria de Lilia Moritz Schwarcz, Maria Helena P.T. Machado e Sergio Burgi, analisa o registro fotográfico dos negros - livres, escravizados ou libertos - no Brasil, em um período em que vários fotógrafos estrangeiros atuavam no país com trabalhos de forte elaboração estética e formal.

Escravos de Marc Ferrez

Lilia Moritz Schwarcz

09.10.13

"Os mesmo indivíduos escravizados, quando observados no detalhe, contracenam diante das lentes", diz Lilia Moritz Schwarcz. "Não poucas vezes com suas expressões faciais e gestos corporais eles roubam a cena, introduzindo um outro mundo: os vários mundos da escravidão. Ao invés da aparente reação passiva, do aceite mudo, no detalhe observamos várias transgressões, inúmeras formas de agenciar lugar e espaço".