Declínio e queda do esprit d’escalier
Paulo Raviere
09.11.17
No Zeitgeist de uma era marcada por elevadores e conexão ilimitada não existe espaço para o esprit d’escalier. Assim como nos é possível enviar a resposta a qualquer hora do dia, podemos adiá-la conforme nossa conveniência. E tendo sido burilada com tanto esmero, ninguém guarda para si a sentença ferina. Quando alguém percebe que disse uma besteira, sua reação seria se envergonhar, certo? Não quando encontra quem a endosse.
Um corpo que sobe…
José Geraldo Couto
10.08.12
Enquete realizada pela revista Sight and Sound a cada dez anos desde 1952 destronou Cidadão Kane (Orson Welles, 1941), o campeão absoluto desde 1962, e colocou em seu lugar Um corpo que cai, ou Vertigo (Alfred Hitchcock, 1958). E a pergunta que todos estão se fazendo - "Por que Kane caiu?" - me parece menos importante do que duas outras...
Do que não falamos quando falamos de crítica – por Antônio Xerxenesky
Antônio Xerxenesky
01.11.11
Um jornal encomendou uma resenha do livro novo de Philip Roth e também do Romance Promissor do Jovem Escritor Bacana. O Crítico Literário Hipotético começa a ler o Romance Promissor do Jovem Escritor Bacana. Observa a foto do rosto do Jovem Escritor Bacana na orelha do livro. Lembra-se que já viu o rapaz em algum evento literário, cercado de admiradores. Lembra-se das declarações polêmicas que o jovem fez nas redes sociais. Pela trigésima página, larga o livro, sem vontade de ler mais, e decide começar o novo de Roth.
A Borges o que é de Borges
José Geraldo Couto
08.09.11
A prática continuada de determinado ofício, o exercício de determinado meio de expressão, dá ao artista um olhar privilegiado, uma sensibilidade aguçada para os trabalhos de seus pares. (...) E essas visões de artistas por outros artistas são muitas vezes idiossincráticas, passionais, desequilibradas. Nem sempre podem ser tomadas como parâmetro crítico. Um exemplo (...): Bioy Casares, o grande parceiro e amigo de Borges, não gostava da literatura do Macedonio Fernández. Assim como Bergman não gostava do cinema de Orson Welles, Buñuel não gostava de Rossellini, e Godard não gosta de Kubrick.
O futuro no passado
José Geraldo Couto
21.07.11
A primeira rede de computadores da Folha não era muito confiável. Dizia-se que era de fabricação paraguaia. Não tenho certeza disso, mas sei que a todo momento as matérias sumiam das telas, perdiam-se dias inteiros de trabalho, era um deus nos acuda na redação. Lembro-me nitidamente de uma noite em que, próximo do horário de fechamento do jornal, o sistema deu pau. Simplesmente parou, como um carro que "morre" por falta de bateria. Uma cena para não esquecer: o diretor do jornal, Otavio Frias Filho, e os dois secretários de redação, parados em silêncio, perplexos e expectantes, diante do terminal inerte da primeira página.
Sem tempo de devaneio
Armando Freitas Filho
25.04.11
Se essa correspondência não fosse pública, eu diria: "rebarbativo Gullar", uma ova! E pronto. Resposta abrupta assim porque a amizade tão profunda e sentida, de mais de 30 anos, que temos um pelo outro sempre permitiu os "contrastes e confrontos", explicitamente declarados e debatidos, sem que isso a afetasse. Mas como escrevemos a céu aberto, ao ar livre como dois BBs no paredão virtual e eletrônico, com gente lendo por cima dos nossos ombros, devo uma declaração a essa galera anônima que bafeja nas nossas nucas: desde os meus 16 anos "pratico" Ferreira Gullar.