Camila von Holdefer

Contar uma boa história

Camila von Holdefer

29.05.17

Nada no clamor para que autores voltem a “contar uma boa história” faz sentido. Mesmo a literatura comercial, ainda que sem qualquer engenho e de forma torta e tênue, diz algo sobre si mesma. Quando autores dispostos a experimentar com a literatura de gênero deslocam o foco da resolução para a investigação, não raro o resultado é instigante.  Quase todas as experiências revelam a relação complexa, mas estreita, entre investigação e signos, linguagem, literatura.

Ricardo Piglia: falsificações em cadeia

Joca Reiners Terron

21.08.12

Ricardo Piglia vem pavimentando a recepção crítica da própria obra ficcional desde o início de sua carreira. Em que momento, porém, sua produção como crítico literário suplantou o interesse despertado por seus relatos? Ou melhor: terá havido um instante em que ambas vertentes, a crítica e a puramente ficcional, confluíram para um único leito narrativo, e em consequência produzir contos e romances ou aquilo que se espera de textos assim denominados tornou-se incoerente?

Do que não falamos quando falamos de crítica – por Antônio Xerxenesky

Antônio Xerxenesky

01.11.11

Um jornal encomendou uma resenha do livro novo de Philip Roth e também do Romance Promissor do Jovem Escritor Bacana. O Crítico Literário Hipotético começa a ler o Romance Promissor do Jovem Escritor Bacana. Observa a foto do rosto do Jovem Escritor Bacana na orelha do livro. Lembra-se que já viu o rapaz em algum evento literário, cercado de admiradores. Lembra-se das declarações polêmicas que o jovem fez nas redes sociais. Pela trigésima página, larga o livro, sem vontade de ler mais, e decide começar o novo de Roth.

Conferência de Ricardo Piglia

Equipe IMS

26.09.11

Em parceria com a editora Companhia das Letras, que promove uma série de atividades em comemoração de seus 25 anos, o Centro Cultural do Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro apresenta no dia 28/9, na próxima quarta-feira, uma conferência do escritor argentino Ricardo Piglia intitulada Romance e tradução. Os ingressos podem ser adquiridos na recepção do IMS-RJ, limitados a dois por pessoa.

A Borges o que é de Borges

José Geraldo Couto

08.09.11

A prática continuada de determinado ofício, o exercício de determinado meio de expressão, dá ao artista um olhar privilegiado, uma sensibilidade aguçada para os trabalhos de seus pares. (...) E essas visões de artistas por outros artistas são muitas vezes idiossincráticas, passionais, desequilibradas. Nem sempre podem ser tomadas como parâmetro crítico. Um exemplo (...): Bioy Casares, o grande parceiro e amigo de Borges, não gostava da literatura do Macedonio Fernández. Assim como Bergman não gostava do cinema de Orson Welles, Buñuel não gostava de Rossellini, e Godard não gosta de Kubrick.

Apreciando a literatura argentina

Sérgio Sant'Anna

05.09.11

O Aleph nos leva a Borges, que não poderia estar ausente do livro de Ricardo Piglia. Na narrativa "O último conto de Borges", ele nos diz que o último conto do mestre surgiu de um sonho em que viu um homem sem rosto num quarto de hotel e que lhe oferecia nada menos que a memória de Shakespeare. Afirma ainda Piglia que Borges teve de resolver o dilema: como escrever num espanhol que tenha a precisão do inglês, mas conservando os tons da fala nacional. Tudo isso a propósito da estranheza dos dois grandes estilos produzidos, segundo Piglia, no romance argentino do século 20: o de Macedonio Fernández e o de Roberto Arlt.

É proibido proibir, mas não opinar

José Geraldo Couto

01.09.11

Que fique claro: não estou criticando esta nova situação, nem lamentando nostalgicamente o fim da arte do passado. Para mim, a maior babaquice é suspirar pela "Arte", ou pelo "Belo", escritos assim, com maiúsculas, e vistos como entidades abstratas, a-históricas. Penso que cada obra de arte - ou cada objeto estético, cada artefato expressivo, cada manifestação material do espírito, como quiserem chamar - cria suas próprias regras, sua própria lógica, seus próprios critérios e valores. Se conseguir tocar a sensibilidade e a inteligência de outros, muito bem. Se não conseguir, paciência.

O futuro no passado

José Geraldo Couto

21.07.11

A primeira rede de computadores da Folha não era muito confiável. Dizia-se que era de fabricação paraguaia. Não tenho certeza disso, mas sei que a todo momento as matérias sumiam das telas, perdiam-se dias inteiros de trabalho, era um deus nos acuda na redação. Lembro-me nitidamente de uma noite em que, próximo do horário de fechamento do jornal, o sistema deu pau. Simplesmente parou, como um carro que "morre" por falta de bateria. Uma cena para não esquecer: o diretor do jornal, Otavio Frias Filho, e os dois secretários de redação, parados em silêncio, perplexos e expectantes, diante do terminal inerte da primeira página.