Carta de Fernando Sabino a Paulo Mendes Campos, 15/7/1945 (Acervo Paulo Mendes Campos / Instituto Moreira Salles)
Em julho de 1945 o jornalista e escritor Fernando Sabino estava com 22 anos de idade, já era casado com Helena e tinha se mudado para o Rio de Janeiro, onde trabalhava para alguns periódicos, entre os quais O Jornal e o Diário Carioca. Foi o primeiro dos quatro mineiros a trocar Belo Horizonte pela então capital do país, mas precisava trazer para perto de si os outros ‘cavaleiros de um íntimo apocalipse’: Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, autor da expressão, e Hélio Pellegrino. Em épocas diferentes, eles se reintegrariam ao quarteto originalmente formado na capital mineira e transplantado para o Rio de Janeiro.
A campanha de Sabino pela vinda de Paulo se intensificou em meados de 1945 por meio de apelos tão desafiadores enviados em cartas tão longas – quinze páginas, como a que se mostra aqui – que o amigo não resistiu: no finalzinho de julho desembarcou no edifício Elizabeth, na avenida Nossa Senhora de Copacabana 769/601, onde moravam Fernando Sabino e Helena. A chegada de Paulo fortaleceu a campanha do romancista de O encontro marcado: os dois juntaram esforços a fim de trazer para o Rio a outra dupla de integrantes do quarteto que tinha ficado em Belo Horizonte, o que de fato aconteceria em pouco tempo. Guardadas as diferenças de estilo e destino – Hélio se destacaria como psicanalista -, todos fizeram história na imprensa carioca a partir da segunda metade da década de 1940.
A correspondência de Fernando Sabino com Otto Lara Resende foi publicada em 2012 com o título O Rio é tão longe. Parte das cartas com Paulo Mendes Campos permanece inédita. Na data de aniversário de Sabino, que, se vivo fosse, faria 90 anos neste 12 de outubro, o Instituto Moreira Salles, guardião do arquivo Paulo Mendes Campos, publica duas páginas de uma das 39 cartas que o autor de O homem nu escreveu ao amigo (clique para ampliar).
[…] Mas que coisa. Mas que coooisa, meu Deus. Que coisa, hein Paulo? Belo Horizonte, hein? Pampulha, hein? Ora, eis senão quando o senhor me faz uma molecagem; emprego arranjado aqui, e você não aparece. Afinal sou um homem de respeito! Sou mais velho do que você! Pode ser inteligente, mas não é preciso me sair com essas molecagens! Eu e minha senhora esperando aqui o tempo todo, e o senhor não me aparece. […]
Venha, Paulo, largue o emprego, recebe dinheiro, mate a sua mulher, compre uma mala nova, atoche-a de originais e venha. Venha que o receberemos com os braços abertos de Spencer Tracy. Você me faz mais falta do que a chave de meu apartamento. Você é uma quimera, um sonho, uma ilusão. Uma esperança para meu pobre coração. Tanto hei chorado aqui, chorado em vão! Quando você vier, te darei um pescoção.