Tratou-se de uma paixão. E de uma promessa. Se conjugadas, o sucesso é garantido: foi o que aconteceu no último dezembro, quando o meu colega, o poeta e professor Eucanaã Ferraz, nos deu uma aula no IMS Rio sobre o poema “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira.
Fui uma das muitas pessoas que se emocionaram em 2009, quando, na Flip daquele ano, ele dissertou sobre o “Evocação” no palco da Tenda dos Autores. Antes mesmo, eu já tinha notícia, por alunos da UFRJ, do alumbramento – para usar um termo bandeiriano – que causava sua análise dessa composição.
Intimei-o, então, a repetir para nós (sim, eu sei, privilégio dos de casa) a interpretação do poema em que Bandeira traz o Recife da sua infância. Um Recife integralmente seu, mas que evoca um Brasil tão profundo que, com os versos, recuperamos, nós também, muito da nossa infância: a obediência infantil, a disciplina cotidiana, o encantamento das histórias que nos contavam na hora de dormir, o descompasso das batidas do coração com as primeiras e mais fortes emoções. Aquelas que se repetem ao longo da vida adulta e madura, até.
“É o que a geografia lírica do Brasil tem de maior”, disse Gilberto Freyre a respeito do “Evocação”, depois de afirmar que é um dos maiores poemas escritos na nossa língua. Disso, aliás, sabemos, e provam as antologias da poesia brasileira. O privilégio de quem ouviu o Eucanaã – exclusividade que agora o Blog do IMS divide com seus leitores – é descobrir, e sentir, com ele, o quanto a geografia pessoal de Bandeira se universaliza e, por isso mesmo, nos comove.
Não deve ser por coincidência que se começa o ano falando no poeta de Pasárgada. No dia 13 de outubro de 2018 completam-se 50 anos de sua morte, e é bom que ele seja lembrado desde agora. Mais um motivo para que o Eucanaã continue a nos oferecer essas maravilhas de leituras. (Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS)