A História por trás das músicas, da modinha à lambada – Quatro perguntas a Tinhorão

Quatro perguntas

20.02.13

Tinhorão (Divulgação)

Como crítico de música popular, durante seus anos de imprensa, José Ramos Tinhorão conquistou muitos admiradores, mas também uma legião de desafetos, gente que discordava, sobretudo, de suas restrições à bossa nova e a tudo o que lhe soasse como submissão da criação brasileira a elementos da cultura de massa internacional.

Como historiador de música, no entanto, é praticamente impossível não reconhecer sua importância, tendo ele vasculhado acervos, bibliotecas e fontes primárias, aqui e em Portugal, para explicar em detalhes como se constituiu a música popular nacional.

Pela Editora 34, que vem publicando a maioria de seus títulos, Tinhorão lança agora, aos 85 anos, a sétima edição de Pequena história da música popular segundo seus gêneros, livro que não ganhava nova versão desde 1991. O pesquisador disseca da modinha à lambada (o último gênero surgido no país, segundo afirma), sempre envolvendo os acontecimentos musicais de informações históricas, mostrando que eles não surgem do nada.

O acervo de Tinhorão está no Instituto Moreira Salles.

O livro não ganhou novos capítulos da edição anterior, de 1991, para cá. Nada mais que tenha surgido na música brasileira nos últimos 20 anos pode ser considerado um gênero?

Não havia o que acrescentar. Se alguém puder informar a existência de qualquer gênero de música popular brasileira posterior a essa data, o autor agradece.

Você não considera bossa nova e tropicalismo como gêneros, mas incluiu ambos no livro. Por quê?

No caso da bossa nova por ser, tal como o jazz, uma forma de tocar que ganha aos ouvidos, na prática, um ar de gênero novo. No caso do tropicalismo por ter, através de seu espírito de contestação política e de costumes, conduzido a música popular brasileira à exploração de estilos que a aproximavam da música de massa internacional em voga, seja através da adesão ao instrumental eletro-eletrônico de importação recente, seja através da entrega da criação musical particular do criador a arranjos de maestros de grande orquestra nos chamados festivais de música popular.

Em todos os capítulos não se fala apenas de música, mas também dos momentos históricos em que os gêneros surgiram. Qual a importância da História para se entender os fenômenos musicais?

A música popular se inscreve na História como dado cultural de um tempo e de um país. E, como se insere na História como produção humana, indica o resultado da criação de alguém que é um ser social e, portanto, passa ao plano de produto sócio-cultural

Aos 85 anos, com uma extensa obra já publicada, o que ainda te interessa pesquisar e escrever sobre?

Sempre sobre temas ligados à história da música popular brasileira, suas origens, processo evolutivo e eventuais projeções ou influências de ou sobre outras culturas. No momento, por exemplo, trabalho sobre o tema considerado folclórico da chamada festa de Coroação dos Reis do Congo. O que pretendo mostrar é que no Congo nunca houve reis, a não ser os que os descobridores portugueses impuseram a partir de fins do século XV aos africanos da região do rio Zaire ou Congo com o objetivo de integrá-los, institucional e politicamente, ao modelo europeu que permitiria sua tranquila subordinação. No Congo, o equivalente a soberano era mani, o que explica a expressão-título Manicongo para o chefe maior local.

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