O tema: as relações entre o Modernismo e o cinema brasileiro. O projeto: abordar novamente o assunto para problematizar a versão dominante, reativar a discussão. “O resumo da história é o seguinte: houve um divórcio, na década de 1920, seguido de um casamento na década de 1960. No meio, nada, abstinência completa.” O método: para desenvolver a discussão, lembrar o cantador de Deus e o diabo na terra do sol. “Quando se fala em cinema, convém lembrar a sábia advertência do Cego Júlio: é tudo verdade e imaginação.”
Imaginemos: “A Semana de Arte Moderna não gerou um movimento orgânico, mas uma profusão de manifestos, obras e autores que iriam rapidamente tomar rumos diferentes, às vezes contraditórios”. É verdade, algo assim ocorreu com o Cinema Novo.
É o que observa Paulo Antônio Paranaguá em A invenção do cinema brasileiro, Modernismo em três tempos. “Como o Modernismo, o Cinema Novo foi um movimento coletivo ao qual foram subordinadas as carreiras individuais dos realizadores, pelo menos na sua primeira fase. Em ambos, coexistia um projeto estético e um projeto ideológico, porém, nenhum dos dois foi unanimista: entre 1922 e a década de 1960 a experiência dos totalitarismos esvaziou a ilusão de unanimidade.”
Paulo lembra que Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma, O homem do pau-brasil) e Eduardo Escorel (Amar verbo intransitivo, Chico Antônio, o herói com caráter), duas figuras do Cinema Novo muito envolvidas com o Modernismo, tinham uma filiação direta com a segunda geração modernista, e comenta: “O entrelaçamento entre o Modernismo e o cinema brasileiro foi uma questão de transmissão, mas também de filiação. Além dos desdobramentos institucionais e das leituras, funcionaram os mecanismos afetivos e intelectuais da ‘família modernista’, uma noção que não se refere apenas às afinidades eletivas, mas também aos laços familiares no sentido literal”.
Estas são algumas das questões que alimentarão o debate, no sábado 9, às 16h15, no Instituto Moreira Salles, com Paulo Antônio Paranaguá, autor do livro A invenção do cinema brasileiro, Modernismo em três tempos (Casa da Palavra/PUC), e Eduardo Escorel. Antes da mesa, às 15h30, será exibido Chico Antônio, o herói com caráter (1983), de Eduardo Escorel uma conversa com o cantador do Rio Grande do Norte que Mário de Andrade conheceu e fotografou em 1928.