Outra vez, o excesso
Bernardo Carvalho
12.09.11
A primeira coisa que faço agora, por vício, ao entrar numa sala de museu, é correr os olhos pelas paredes à procura das etiquetas ou das fichas informativas, o que torna essas visitas cada vez mais exaustivas e as obras, às quais só vou me ater depois de ler as explicações, cada vez mais secundárias. Não estou fazendo o culto da ignorância e da espontaneidade, nem a crítica da crítica (seu papel, fundamental, é mesmo revelar e esclarecer a obra). Estou apenas dizendo que o excesso (e a velocidade que dele decorre) põe a crítica necessariamente na frente da obra - e o ensaio na frente da literatura.
Uma aventura no Xingu
Bernardo Carvalho
05.09.11
O taxista não acreditou. Parou e, reproduzindo o meu gesto a título de ilustração, perguntou (dessa vez, em inglês, porque só um estrangeiro, na sua ignorância, podia ter reagido como reagi) se era aquilo mesmo que eu tinha querido dizer. Ele estava a fim de encrenca. E eu, cada vez mais transtornado, repeti o gesto, disse que ia chamar a polícia e peguei o celular. Fingi que discava o número da polícia, fingi que falava em inglês com a polícia e que dava o endereço de onde estávamos. Tudo bem alto, como um louco, pra ele ouvir. Era como se eu fosse parte de um episódio do Seinfeld.
Passeios sem Robert Walser
Bernardo Carvalho
11.07.11
Não tenho fetiche por escritores (não costumo visitar seus túmulos nem suas casas, embora a de Dostoiévski em São Petersburgo tenha me deixado muito impressionado). Decidi ir atrás dos traços de Walser em Berlim (onde ele viveu entre 1907 e 1913, depois de ter frequentado uma escola para criados, e quando escreveu e publicou a sua obra-prima recém-lançada no Brasil, Jakob von Gunten) só pra me distrair do meu próprio bloqueio. Achei que um pouco de fetichismo pudesse me ajudar a superar a inércia.