Carla Rodrigues

Comum, errante e alegre

Carla Rodrigues

11.02.16

É da passagem da vida comunitária para a vida individual que trata a última temporada de Downton Abbey. A rigor, todos os desfechos das trajetórias de vida – seja dos nobres, seja dos empregados – indicam o primado do indivíduo sobre a comunidade. O fim desse mundo compartilhado que Abbey narra tão bem é hoje um tema importante na filosofia política.

O tempo do luto é outro

Carla Rodrigues

27.01.16

Falar sobre o luto será sempre também falar sobre a vida que fica, continua, sobrevive, permanece. Se, como me disse um médico e amigo, é preciso passar pelo luto,  se é uma experiência inevitável, então é também inevitável aprender a falar sobre ele – assim como precisamos aprender a falar sobre a morte –, mas para isso me parece que devemos também falar sobre o tempo.

Maracanazo, as elipses e a morte

Carla Rodrigues

13.01.16

É em torno de elipses e de mortes que o jornalista Arthur Dapieve escreve os cinco contos de Maracanazo, em textos que vão do grotesco ao sofisticado numa velocidade que, à primeira lida, pode espantar. Inspirado por autores ingleses como Ian McEwan e o nipo-britânico Kazuo Ishiguro, Dapieve faz com as elipses aquilo que fazemos na vida: subentendemos a finitude pelo contexto, suprimindo cotidianamente elementos que poderiam tornar a morte uma evidência explícita.

A força de quem não tem nada a perder

Carla Rodrigues

29.12.15

A reconstituição da luta feminina por direitos civis e trabalhistas do filme As sufragistas reflete conflitos atuais da política. Ao abalar os pressupostos da razão masculina como sinônimo de razão universal, as sufragistas do início do século XX e as feministas do início do século XXI participam de um processo político amplo que vem mudando a cara do mundo ocidental nos últimos 100 anos. 

#primaveradasmulheres

Carla Rodrigues

16.12.15

Na #primaveradasmulheres, refloresceram as pautas políticas que já haviam animado outras ondas feministas do século 20, como a denúncia da violência sexual, o “meu corpo, minhas regras” e “o privado também é político”. A novidade é nos obrigar a pensar em novas formas de fazer política. Não se trata de criar hierarquias entre diferentes formas de luta, porque trata-se de uma filosofia política feminista que rejeita hierarquias.

Do medo ao pânico moral, da segurança ao desamparo

Carla Rodrigues

02.12.15

O medo do que ainda poderá acontecer torna-se o principal mobilizador da política – nacional e internacional – e justifica desde a cassação de liberdades individuais até bombardeios. Esse medo tem sido, seguindo o diagnóstico do filósofo Vladimir Safatle em seu recém-lançado O circuito dos afetos, o principal afeto da política desde o início da modernidade.

Enlutar-se, fazer luta do luto

Carla Rodrigues

16.11.15

Somos um país sem nenhuma tradição de luto público ou político. As bandeiras não descem a meio pau quando dezenas de vidas são perdidas em Minas Gerais. Homenageamos nossos mortos à moda mais provinciana, falando bem de quem morreu como se fosse pecado dizer a verdade sobre eles. É tão triste a nossa incapacidade de reconhecer vidas perdidas dignas de serem lamentadas que podemos acabar metidos em debates estéreis como o que invadiu as redes sociais depois dos atentados em Paris. Estabeleceu-se uma disputa entre quais mortes teriam mais valor e quais manifestações de luto seriam mais legítimas. Falta enlutar publicamente os mortos de Mariana porque falta luto público para todos os nossos mortos.

Sobre a plasticidade do machismo na cultura brasileira

Carla Rodrigues

03.11.15

Mulheres de todas as idades, matizes ideológicos, autodeclaradas feministas ou não, mulheres suprapartidárias, magras, gordas, brancas, negras, hetero ou homossexuais estão nas ruas gritando e protestando, marcando uma nova onda do feminismo em um Brasil ainda machista.

Menos quem não é

Carla Rodrigues

20.10.15

A polêmica sobre a campanha Eu também sou imigrante do Ministério da Justiça mostra como racismo rima com xenofobia na violenta cultura brasileira. O problema se agrava quando se encontram o jovem negro imigrante, alvo de racismo e xenofobia, com o jovem negro pobre, vítima de racismo, discriminação e violência policial, bisneto do passado escravocrata cujas feridas sociais ainda não foram curadas. 

A morte e a morte da esperança equilibrista

Carla Rodrigues

07.10.15

Há uma compreensão política de que o fim das grandes lideranças carismáticas acontece no mesmo momento que em se encerram também as possibilidades das grandes narrativas. Nesse aspecto, Betinho é ao mesmo tempo o último líder carismático e o primeiro a perceber e propor, revestida de campanha contra a fome, uma participação popular direta que eliminava intermediários e representantes.