Contradições do aborto como crime contra a vida
Carla Rodrigues
11.11.14
A criminalização do aborto no Brasil é um desses fenômenos de múltiplas injunções, capaz de reunir preconceitos históricos, dogmas religiosos do valor absoluto da vida, a desigualdade no acesso à saúde, a hierarquia social de gênero e uma poderosa apropriação do Estado pela Igreja Católica.
Dilma, vírgula
Carla Rodrigues
29.10.14
A vírgula no slogan "Dilma, muda mais" pode ser entendida como o mecanismo que pretende virar a frase para a esquerda, argumentar a favor de pautas políticas até agora ignoradas, como o elemento de linguagem que pretende levar a presidente para lugares onde ela ainda não esteve. Quer dizer que está na hora de olhar para os aliados, o que significa olhar para as ruas, onde os protestos iniciados no ano passado pediam esse “muda mais”.
O que as urnas dizem das ruas, o que as ruas dizem das urnas
Carla Rodrigues
15.10.14
O resultado do primeiro turno das eleições vem sendo interpretado como o fracasso das manifestações de rua diante da vitória de uma bancada legislativa conservadora. Mas só pode estar decepcionado quem parte da premissa de que a insatisfação manifesta em junho de 2013 deveria ter sido necessariamente canalizada para eleitores de esquerda.
Posições sobre a forma partida
Carla Rodrigues
01.10.14
Escolhemos candidatos de determinados partidos – palavra que está longe de poder designar união, por tudo que nela contém de quebra, ruptura – como se estes nos garantissem unidade em um programa de governo. Votar com essa expectativa é continuar votando a partir de uma formulação anacrônica de democracia.
A desconstrução na e da política
Carla Rodrigues
17.09.14
Cerca de 50 anos após Jacques Derrida definir o conceito de "desconstrução", o termo foi vulgarizado nos discursos dos marqueteiros das campanhas presidenciais, que fingem ser possível traduzir a voz das ruas – pretensão desautorizada pelas ruas, que questionam a própria ideia de representação.
Sobre aquilo que não sabemos falar
Carla Rodrigues
03.09.14
Embora o noticiário esteja nos colocando diariamente diante do luto, seja com as mortes históricas, como a do candidato Eduardo Campos, ou com crimes bárbaros, a morte permanece no campo do indizível, mantendo sua ligação com o mistério, a incerteza, o medo e a angústia.
O sujeito da hashtag #sqn
Carla Rodrigues
20.08.14
A partir de Lacan, pode-se refletir sobre o estatuto contemporâneo da linguagem e as “engrenagens das leis do bláblá”. O fenômeno das hashtags, instrumentos de indexação, podem formar um sujeito sem linguagem, ou uma linguagem sem sujeito, mera repetição de um blábláblá infinito.
Romance de desformação
Carla Rodrigues
06.08.14
O que amar quer dizer, primeiro romance do francês Mathieu Lindon a ser publicado no Brasil, narra a amizade do autor com o filósofo Michel Foucault em um relato pautado por uma série de transgressões. Na opinião de Carla Rodrigues, Lindon joga com a forma do romance de formação para refletir sobre uma mudança de paradigma no mundo: antes e depois do maio de 68.
A morte e a morte de Tintim
Carla Rodrigues
22.07.14
Eu não quero mais PMs nas ruas, quero o fim da PM tal como ela está concebida, porque estou convencida de que o absurdo do assassinato da Tintim é resultado da combinação entre corrupção, arbitrariedade, incompetência e violência desta polícia. Há anos e anos a PM fluminense justifica sua inoperância com a expressão “banda podre”, dicotomia em relação a uma suposta “banda boa”. Falta reconhecer que os dois lados da instituição são inseparáveis, um existindo para justificar o outro.
O espólio de cada um
Carla Rodrigues
10.07.14
As cidades-sede da Copa se tornaram globais e subsumidas às regras do capital. O quadro é particularmente dramático no Rio de Janeiro, de onde sai a Fifa mas permanece o COI, e com ele uma política municipal na qual é impossível encontrar os traços de um plano de governo que não seja um projeto olímpico para 2016. A sensação cada vez mais presente aos moradores é a de que o Rio global é uma cidade estranha ao seu morador.