Os muitos prodígios de O menino e o mundo
José Geraldo Couto
12.02.16
Torcer para um filme, ator ou diretor ganhar o Oscar é algo um tanto pueril. Torcer por razões nacionalistas ou patrióticas, então, beira a estupidez. Contudo, há um aspecto do Oscar que pode ser positivo: chamar a atenção para filmes bons que, sem esses holofotes, talvez passassem despercebidos. É o caso flagrante e escandaloso de O menino e o mundo, de Alê Abreu, indicado a melhor longa de animação.
Iñárritu e a estética da ênfase
José Geraldo Couto
05.02.16
O regresso, um dos fortes concorrentes ao Oscar, narra história que já foi filmada em 1971, com enredo praticamente idêntico e nomes de personagens mudados, em Fúria Selvagem. A versão de Iñárritu, como seria de esperar, é espetacular, enfática e cheia de proezas técnicas. Nada é omitido, tudo se mostra. Mais que isso: tudo se exibe, tudo se ostenta, tudo grita. Nada é deixado para a imaginação ou a inteligência do espectador.
Carol, A grande aposta e a insanidade americana
José Geraldo Couto
29.01.16
Dois “filmes do Oscar”, ambos perfeitamente assistíveis, nenhum deles plenamente satisfatório, ao menos para mim: Carol, de Todd Haynes, e A grande aposta, de Adam McKay.
O admirador de filmes anteriores de Todd Haynes podem ver em Carol uma rendição ao cinema mainstream. Em A grande aposta, as histórias pessoais de seus personagens soam como ganchos dramáticos artificiais e frágeis.
Scola, síntese do cinema italiano
José Geraldo Couto
22.01.16
O cinema de Ettore Scola (1931-2016) é o lugar em que se encontram três tradições muito fortes do cinema italiano: o neorrealismo, a comédia social de costumes e o cinema propriamente político, ou de “impegno civile”. Scola não chegou a criar um universo estético próprio, inconfundível, a exemplo de Antonioni ou Fellini. Como o americano Woody Allen e o brasileiro Jorge Furtado, ele faz parte da linhagem dos cineastas-roteiristas.
Boi neon e o homem como animal sublime
José Geraldo Couto
15.01.16
Boi neon, de Gabriel Mascaro, premiado nos festivais de Veneza, Toronto, Hamburgo, Rio e Salvador, é muito mais do que outro filme pernambucano recente que busca conjugar tradição e modernidade. Camadas mais profundas o enriquecem e adensam, por trás de sua bela e fascinante superfície.
Os oito odiados, réquiem por uma nação
José Geraldo Couto
08.01.16
Em Os oito odiados, novo filme de Tarantino, parece nascer uma nação dilacerada, de todos contra todos, em que cada um se move apenas pelo ódio e pela cobiça. O negro, o mexicano, a mulher, o ianque, o sulista – todos são sujeito e objeto do ódio homicida em algum momento, se não o tempo todo. Não há sentimento possível de comunidade. É o precoce ocaso de uma nação.
Orson Welles, o desmesurado
José Geraldo Couto
30.12.15
A Versátil lançou duas caixas com filmes de Orson Welles. É impossível dissociar o cinema de Welles da figura de seu realizador: ambos brilhantes, desmesurados, incômodos, indomáveis. Toda a sua filmografia, desde Cidadão Kane (1941), pode ser vista como variações em torno do tema da grandeza e da fragilidade humanas, do caráter vão da riqueza, da fugacidade do poder.
Star wars e as mitologias instantâneas
José Geraldo Couto
24.12.15
O novo episódio de Star Wars dá uma curiosa volta sobre si mesmo. Ao narrar a busca pelo desaparecido Luke Skywalker, pretende de algum modo resgatar a aura comparativamente “ingênua e romântica” dos primeiros da série. O filme de J. J. Abrams, no entanto, demonstra frouxidão. Os momentos em que ele poderia e deveria ascender ao estatuto do épico carecem de força e grandeza.
A mãe universal de Nanni Moretti
José Geraldo Couto
18.12.15
Há artistas que partem de uma experiência confessional, mas a deslocam de modo a transcender o narcisismo e criar uma fabulação de maior alcance, generosa e universal. Nanni Moretti fez isso em vários filmes, como seu mais recente, o esplêndido Mia Madre. A força de Moretti vem de estar ao mesmo tempo dentro e fora do drama, vivendo-o e simultaneamente enxergando-o criticamente.
A família monstro de Pablo Trapero
José Geraldo Couto
11.12.15
Há quem diga que, depois revelar um talento vigoroso e original, o argentino Pablo Trapero enveredou por um certo sensacionalismo. Seu novo filme O clã talvez sirva para reforçar essa tese. Mas há outras maneiras de encarar a trajetória de Trapero. Uma delas seria a de ver sua filmografia como um work in progress sobre a violência que permeia as várias camadas da sociedade.